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Artigos-->A VERDADEIRA FÁBULA DO PINÓQUIO(Liberato Póvoa) -- 07/12/2004 - 11:51 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A VERDADEIRA FÁBULA DO PINÓQUIO



Liberato Póvoa é Desembargador do Tribunal de Justiça do Tocantins e autor de dezenas de livros.



No artigo “Do bandejão à preservação das instituições”, publicado no Jornal do Tocantins, não se sabe se escrito a quatro mãos, mas assinado pela ilustre colega Desª Willamara Leila de Almeida, que de repente se tornou uma emergente magistrada, afinadíssima com a atual administração do Tribunal e de quem só agora se lhe descobriram as qualidades, ela se referiu ao artigo “Mea culpa”, deste colunista, reportando-se à fábula do Pinóquio, dando a entender que não a transcreveu devido à exigüidade de espaço. Assim, complementando sua intenção, e para não deixar o leitor na expectativa, foi extraído do próprio site da articulista, agasalhado no portal do Tribunal de Justiça, aquela fábula, que aqui é transcrita como ali se achava, inclusive respeitando a grafia italiana do boneco de pau:



“Era uma vez uma marionete desengonçada chamada Pinochio. O velho Gepeto decidiu criá-lo para divertir a garotada naqueles primeiros dias de construção da Vila de Parma. Pinochio logo ganhou a simpatia da garotada, provocando risos e gargalhadas, pois suas pernas de madeira, finas e instáveis, sempre o embaraçavam nos próprios cordões. Mas o que entristecia a todos é que Pinochio, com os aplausos do público, foi ficando ambicioso e vaidoso, e não admitia mais ser apenas um boneco de madeira. Julgava ser criança de verdade. Quando a garotada o chamava à realidade e reprimia suas mentiras, ele se revoltava contra todos e repleto de inveja e rancor dizia que as crianças é que eram marionetes. Um dia, Pinochio conheceu uma raposa muito esperta e sedutora, que conseguiu convencê-lo a trair seu velho pai Gepeto, levando-o para o teatro mambembe. Com sua esperteza, a raposa fazia Pinochio acreditar que tinha se transformado em criança de verdade, e eufórico gritava: Fui libertado, fui libertado! Mas, de forma sorrateira, a raposa manipulava seus cordões levando-o a fazer coisas feias. Pinochio entrou em êxtase com a idéia de que era livre e perdeu a razão, sentenciando aos quatro cantos que apenas ele era honesto e livre. Pobre Pinochio, ainda preso aos cordões, sem perceber, era manipulado pela raposa. Com um nariz enorme de tanto contar mentiras e fazer coisas erradas, não enxergava direito os cordões que lhe davam movimento, levando-o a pensar que o vulto dos cordões que dançavam à sua frente manipulavam as crianças. Pobre Pinochio, sua vaidade e sua inveja alimentavam as mais detestáveis mentiras. Aos poucos foi perdendo os amigos, que reclamavam da sua tremenda cara-de-pau. Até hoje o pobre Pinochio não percebeu que nunca passou de um simples boneco de madeira, e que marionete que nasce marionete, morre marionete, nunca abandona o cordão, apenas muda de mão”.



Esta é a fábula, que tenta estender à pessoa do articulista de “Mea culpa” a personalidade do boneco de madeira, que, na obra original, o clássico infantil “Avventure di Pinocchio” (de Carlo Collodi, pseudônimo do escritor Carlo Lorenzini), não era marionete, mas um boneco de madeira quase perfeito construído pelo relojoeiro Gepeto, que ganhou vida com um toque da varinha mágica da Fada Madrinha, tendo a fábula sido convenientemente adaptada para caber no caso (até convinha que o leitor lesse o original).



E Pinóquio descobriu o mundo, tendo sido enganado pela esperteza da Raposa, que acabou levando-o para as garras do barrigudo Strômboli, tirânico dono de um circo de marionetes, onde o boneco, pelo seu ar desengonçado, provocava risos, mas se sobressaía dentre os demais, por fazer coisas que para eles pareciam esquisitas e porque era o único boneco que tinha voz própria e não era manobrado pelos cordéis que movimentavam os outros (os cordéis do Pinóquio foram convenientemente acrescentados à fábula maquiada). E a Fada Madrinha enviou uma borboleta mágica para libertar Pinóquio da tirania de Strômboli, que mantinha o boneco engaiolado, exatamente porque ele tinha movimentos próprios e sabia falar.



Mas vamos acolher como exemplo a fábula mencionada naquele artigo, embora inteiramente desviada do enredo do universal clássico infantil, convenientemente maquiado para causar impressão. Admitamos que o Pinóquio tivesse sido uma marionete manobrada por cordéis e que, depois de um período de rebeldia, tivesse passado a agir como o boneco de sempre, só que agora manobrado por outras mãos.



Ledo engano: se os demais bonecos continuam a ser manobrados pelas mesmas mãos de sempre, o Pinóquio a que se refere aquele artigo não mudou de mãos, como se insinua, pois a atitude libertária assumida rompeu a antiga e discutível solidariedade e agora ele adotou movimentos próprios, porque a borboleta mágica da conscientização libertou-o do circo de Strômboli, passando a caminhar com seus próprios pés, respirando a liberdade. E com a vantagem de ser o único que fala o que quer, sem ter que consultar ninguém, mercê da ajuda da borboleta mágica, que lhe soprou no ouvido o bafejo da liberdade. Os demais continuam movimentando-se e manifestando-se ao sabor da vontade do dono do circo Strômboli, através das cordinhas que só as marionetes têm. Pinóquio nunca teve as cordinhas que a adaptação da fábula lhe conferiu.



Enquanto isto, como há quem prefira a mesmice de sempre, por faltar-lhe a coragem de viver livres, espera-se que os Pinóquios (e Pinóquias, pois elas existem) sejam muito felizes, pois quem os julgará não seremos nós, que vivemos num autêntico picadeiro, mas a História, que saberá reservar-lhes o lugar adequado.



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