Não adianta persistir: a luta do bem contra o mal, e vice-versa, tem milénios de experiência e resulta completamente ineficaz porque, ao longo do tempo, a paz e a guerra sucedem-se incessantemente.
Progride-se e evoluiu-se na expectativa de se encontrarem soluções, mas a esperança vai-se gorando, religiosa ou cientificamente, e sempre de novo a estupidificante luta continua cada vez mais acerada, refinada e cruel.
Constate-se, por exemplo, a ficcionada ideia de conceber a personagem de Zorro, espécie de indivíduo "bem-e-mal" que defende os mais fracos em face da implantada facção da injustiça dos mais fortes. Daí, em 2006, surge exemplarmente um "nada-nadinha" ao contrário: um pulhazeco qualquer que, mascarado por um "nick" de trampa, vai provocando, insultando e desmotivando quem quer e lhe apetece, algo insignificante que ao colocar-se numa outra dimensão desde logo revela a impotência de ambos os lados da questão.
Em suma, tal e qual o bem que se implanta e prossegue, não há hipótese alguma de eliminar o mal. Toda e qualquer cirurgia social que se intente, logo adiante, reconverte-se e depara-se-nos assustadoramente triunfante.
Estou neste momento a lembrar-me do negócio da caridade. Que género de bem pratica um voluntário exibicionista que coloca os indivíduos carentes em situação subordinada? Em nome de os recuperar, está, sim, a afundá-los ainda mais. O que está um indivíduo destes fazendo? Fundamentalmente está tratando de sobreviver em nome de um bem que deveras não pratica.
Treine-se pois a fusão do bem com o mal. Apre, o positivo e o negativo, devidamente controlados, dão luz; tocados um contra o outro, sem mais, geram as trevas.
António Torre da Guia |