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cronicas-->A CHAVE TO TAMANHO -- 16/11/2001 - 12:43 (Denis Cavalcante) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos














A CHAVE DO TAMANHO

" A gente não deveria crescer nunca!" ( Sófocles )

DENIS CAVALCANTE


Entrou pela loja adentro como se fosse um furacão, na mão esquerda um gotejante picolé não sei do que, que por onde andasse deixava um rastro meloso no limpo chão de mármore. Vez em quando dava saltos, soltava gritos; com o visível objetivo de chamar a atenção . O pai que veio junto, talvez já acostumado com sua algazarra, fazia ouvidos de mercador. Mas quando começou a espalhar os livros das prateleiras pelo chão , aí achei que já era demais!
Cheguei junto e toquei de leve, porém com firmeza em seu ombro, pronto para dar-lhe uma sonora esculhambação! Mas quando surpreso, ao meu chamado irado ele voltou-se para mim os olhinhos vivazes e miúdos, o que vi foi um menino assustado e trêmulo, trêmulo e só.
Para que os leitores entendam melhor essa crónica, é de bom alvitre que se diga, que o " menino", já tinha apesar da aparência juvenil , 23 anos completos, e era portador da Síndrome de Down; aquela que faz as crianças, continuarem eternas crianças, por toda sua breve existência. Seus olhinhos miúdos encararam-me inocentemente, como dizendo: - O que foi que eu fiz de errado?
Perguntei-lhe por jogava os livros pelo chão e ele nada, continuava se fazendo de desentendido. E eu cá comigo:- então tá... tratei de entrar no jogo dele, e sem pedir permissão, tipo vapt vupt, dei uma senhora lambida minto, uma senhora abocanhada em seu gotejante picolé, e avisei:- se não parares com essa balbúrdia e não catares um por um todos os livros jogados ao chão, teu picolé vai ficar no palito.
Ele deve ter pensado com seus botões: esse cara é doido, e foi pianinho juntando os livros que tinha espalhado pelo chão. Dos que ele havia derrubado havia um que, faziam longos 40 anos que não lia; "A chave do tamanho" de Monteiro Lobato. Como o livro era ilustrado, consegui chamar sua atenção, sentei-me ao seu lado no surrado sofá, e comecei pacientemente a contar-lhe a estória.
Era uma vez... enquanto narrava-lhe a estória, os personagens encantados iam saindo do livro. Emília, Narizinho, Tia Anastácia, Visconde, Pedrinho... na medida em que os personagens iam diminuindo de tamanho sua atenção aumentava ao desenrolar o enredo da fantástica estória. Seus olhinhos miúdos passeavam ora nas ilustrações, ora olhando fixa e atentamente para mim. Sua boquinha entreaberta, parecia sorver com prazer a magistral obra de Monteiro Lobato.
E quando já, no finalzinho da estória entramos na " Casa das Chaves " e colocamos a "Chave do Tamanho" na posição antiga, todo mundo voltou ao tamanho normal.
Quem bom seria se pudéssemos fazer como no livro e diminuíssemos com uma simples chave, o tamanho dos problemas, os desencantos, as agruras, os dissabores dessa vida. Melhor ainda se fosse possível reduzir ao tamanho de insetos; a miséria, a fome, as pessoas que teimam em nos magoar, os poderosos venais, os políticos corruptos: bem aí é assunto pra outra crónica...
Ao término da estória, seus dedinhos delicados tocaram de leve os meus, éramos como duas crianças , dei-lhe com prazer inarrável, o mágico livro. Mas ele mostrou-se pouco interessado, na hora confesso que não entendi: estávamos indo tão bem...
Entendi sim quando na saída, deu-me uma piscada marota, um beijo melado, e despediu-se dizendo: - Tio, da próxima vez fala com o Visconde, pede pra mim uma cópia da chave, aquela que faz as pessoas ficarem bem pequeninas, a Chave do Tamanho.

Denis@amazonline.com.br


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