O COLOSSO OPERÁRIO
XI
É quem aplaina a estrada e põe a hospedaria.;
quem na vida venceu ódio, insídia e desprezo.;
quem a porta guardou, constante, dia a dia.;
quem as brenhas rompeu.; quem sustentou o peso.;
o que escarpas galgou, passando a serrania.;
o que após a batalha rude, viu-se ileso.;
que as desgraças sofreu sereno, de alma pia
e a glória conquistou sustendo o ideal aceso.
Quem agiu sem temor, desânimo ou cansaço,
apesar de ferido, humilhado e ofendido,
apoiado somente ao vigor de seu braço.
É quem vence o tufão, o deserto, a tormenta,
é quem os campos ara e à vida põe sentido,
é quem acende o fogo e os gados apascenta.
XII
É quem acende o fogo e os gados apascenta.;
quem, da foice e da enxada, e atrás do boi no arado.;
quem, do anzol e do arpão, na jangads que aventa
recolhe o peixe e o grão e o fruto amadurado.
Quem,em junho, ao luar, no terreiro se assenta
e, das cordas da viola, ao canto apaixonado,
com puro e ardente amor à amada se apresenta,
simples e natural, ao rimar ritmado.
Quem fala do Brasil, das montanhas, do agreste,
da selva ilimitada e imenso pantanal,
das campinas do sul, dos planaltos do oeste,
natureza sem par noutro lugar do mundo!
É quem honra o Brasil, sua Pátria e seu fanal,
do cosmos infinito, ao pélago profundo!
XIII
Do cosmos infinito ao pélago profundo.;
na vazia amplidão, no encapelado mar.;
da gruta escura e vã ao píncaro jucundo.;
sendas ínvias vencer, rudes penhas galgar!
Onde houver no universo um garimpo fecundo
de calcáreo ou metal promissor a brilhar,
matéria destinada à construção do mundo,
riqueza destinada a lindes conquistar.;
põe o invicto herói seu poder criador.
Em tudo quanto nasce, o que vive, o que morre,
seu saber, seu cuidado, o interesse, o lavor,
sua dor, seu prazer, a tristeza e a alegria...
E no sol e na chuva e no vento que corre
põe a marca viril de sua engenharia!
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