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Infantil-->O menino Rui -- 18/02/2007 - 11:11 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Menino Rui

No meu tempo de menino, os pais eram uns ignorantes e batiam muito nos filhos. Eu levava surras homéricas do Juca, meu pai. O único menino em Água Doce que apanhava mais do que eu era o Rui. Talvez fosse por causa disso que eu gostava tanto dele. Eu e o Rui éramos solidários nas surras. Ele tinha também uns oito anos como eu e era meu companheiro nas brincadeiras de rua. Seu pai, o coronel José Fernandes, acreditava que ele andava fazendo “bobices” com os outros meninos e o surrava por conta disso. Eram surras longas, barulhentas, absolutamente injustas.
Às vezes eu ia até a sua casa chamá-lo para brincar e o encontrava sentado e chorando numa mesa alta da sala. Seu pai o erguia pelas orelhas e colocava sobre a mesa. Dava beliscões e palmadas nas suas pequenas pernas e braços frágeis. O pescoço do Rui era muito fino e eu imaginava que a cada vez o seu pescoço afinava um pouquinho mais. Eu sentia muita pena do meu amigo porque ultimamente ele nem chorava mais, nem gritava, apenas abria a boca feito uma múmia do gelo, deixando as lágrimas rolarem rosto abaixo. O choro do Rui era mudo e eu via nele apenas uma enorme boca aberta. A cena era uma tristeza só.
Quando eu chegava na porta da sua casa e o encontrava seminu, sentado outra vez na mesa fatídica, ficávamos envergonhados um do outro. Tínhamos vergonha de ser indefesos e apenas trocávamos alguns muxoxos solidários. O que se havia de fazer com pais tão poderosos? Com o olhar triste ele parecia querer se desculpar comigo pelo vexame. Mas eu não ficava com raiva dele. Eu sabia que no momento ele não podia sair para brincar comigo porque estava ocupado, apanhando com cinto de couro uma importante surra do seu pai. Homem malvado.
Sua mãe, dona Jurema, humilde e subjugada pelo marido, era apenas uma silhueta, um fantasma desnorteado a perambular na cozinha. Ela não concordava com as surras aplicadas no Rui, mas não podia fazer nada. As mães foram e são sempre uma belezura para os filhos. E como elas fazem falta! Um dia o Rui permaneceu dormindo até mais tarde e não se levantou da cama pela manhã. O coronel foi acordá-lo com gestos bruscos, mas o queixo do dorminhoco estava duro e não respondia nada. Pensaram que fosse pirraça dele, depois acharam que era caxumba, mas não era nada disso, era coisa muito pior: era crupe. Surgiram umas manchas pelo seu corpo magro, veio uma febre tinhosa e o meu amigo acabou morrendo em poucos dias. O Rui tinha apenas oito anos como eu, mas achei que foi “bem feito para o seu pai!” Assim ele fugia das humilhantes e inúteis surras diárias.
Eu perdera o meu amigo, mas, em compensação, o coronel não teria mais em quem bater. Em pensamento eu ouvia o Rui gritando lá de longe: “Até um dia, coronel... Até nunca mais, coronel... Eu não preciso mais de um pai igual a você, coronel!...”
Já, no cemitério, ao lado do pequeno morrinho de terra amarela que cobriria o corpo do Rui, eu estava com os olhos cheios de lágrimas e virei um São Pedro Mirim tomando conta da porta do Céu: “Amigo Rui, pode entrar!... Aqui no Céu você nunca mais vai apanhar de ninguém... aqui só tem anjos, muito amor e carinho!...”



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