...E o homem não tem jeito. É de natureza abissal, mas talvez porque precise ser, talvez porque precise se esconder. Deveria rasgar o peito, dissimular a alma, ir para o mundo sem jeito, aliviar a dor com calma.
...Ele e suas poesias, seus textos sem hora marcada, pede desculpas para os amigos, ao invés de rir do interior das trevas, trevas que ele teima em não deixar em paz. Sexta-feira da Paixão, o monstro e suas visões abissais.
...Mas não. Confunde maldade, ressentimento, gratidão, com a maior de todas as dores: Solidão. Do alto da cachoeira, aquela que harmoniza o campo, o Monstro das montanhas abissais, deveria pular, pular e viver fábulas, pular e sofrer por amor (pode ser até prímico! Que me perdoem os dois) porque alguns amigos vão embora, ou vão para bem longe e deixarão aquele frio abissal.
...Não há então, Natureza Abissal, porque essa se foi com o tempo...foi!?
...Não, não se foi. Lembro de casa, lembro da onça-pintada e lembro de tocar sua mão, sentir desejo, cheiro no olho, de sorrir sem pressa. Vejo então que com o tempo só aumenta, vejo que o cálculo das curvas, a rigidez do muro, a força do vento, a música do silêncio e os diminutos tormentos, me atribuem então, com mágoa do tempo, uma Saudade Abissal.
...E minhas lágrimas só correm quando escrevo no papel.
...E acho engraçado as trevas interiores do Monstro, em sua profundeza abissal, escrever para os amigos e lembrar-lhes de também se sentirem mal. Parece que nas linhas de Galvão, apesar da solidão abissal, há algo de premeditado, para despertar os sentidos nos amigos abissais, que por vezes não escrevem ou não respondem, mas sentem, tenho certeza, uma Saudade Abissal, seja de lugares ou pessoas, de momentos ou instantes, de tormentos ou paixões de natureza abissal.