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Poesias-->É Tempo -- 18/03/2002 - 05:37 (Narjara de Medeiros) |
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“Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- Mais nada.”
Cecília Meireles
É Tempo
Tempo de abrir a janela
Para a serenata
E deixar tocar esse ruído invisível
Tocar fundo no peito, adentrar ao nácar coronário
É tempo de mostrar os atos interiorizados
Fazer deles uma peça teatral
É tempo de chuva no quintal, na varanda da casa amarela
Na janela da pequena moça não-descoberta
Tempo de cair nessa chuva torrencial
Molhar-se-ão todos os sentimentos
E a forte terra os terá por privilégio
É tempo de sair sem medo,
Sem cidade
Sem casa
Sair com a grande vontade de querer
Ser/ter vida
É tempo de pluralizar todos os atos singulares
De desmontar toda a construção madeiral
Deixar a terra nova, para outros tempos
É tempo de guardar a roupa suja no armário
Para lembranças de tempos passados
Tempo de usar toda a roupa limpa
E de sujá-la por completo
É tempo de bossa nova, de música lunática
Música exótica, silenciosa... Diversa em sua ótica
Tempo de limpar o doce da panela com o dedo
Tempo de limpar o dedo na língua molhada
De brigar com a família
Tempo superior a todos os demais
Tempo único...Singular
E, quando a hora se esgotar
A hora do tempo
É tempo de dizer adeus ao tempo
Tempo de muito chorar, de se conformar
Tempo de guardar toda a bagunça da festa
No velho baú marrom-famélico
E deixá-lo ali, sozinho
Pois agora é tempo de se deitar...
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