O fato estava falando mais alto do que a promessa divina, mas a crença ainda o encobria.
"Nós criticamos os governos pela má administração, pelas injustiças sociais, etc.; mas quem administra este mundo quem ousa criticar?!".
Tal afirmação procedeu de alguém que, ainda acreditando existir um deus no comando de todas as coisas, não conseguia aceitar os fatos, ao ver uma pessoa cheia de bondade passar por anos de intenso sofrimento até a morte, enquanto tantas pessoas más tinham uma vida sadia.
A interlocutora, evangélica que era, respondeu: "Isso está muito além do nosso entendimento".
No dia seguinte, o pastor evangélico, na cerimónia fúnebre, lia o Salmo 91:
"Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Todo-Poderoso descansará. Direi do Senhor: Ele é o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio. Porque ele te livra do laço do passarinho, e da peste perniciosa. Ele te cobre com as suas penas, e debaixo das suas asas encontras refúgio; a sua verdade é escudo e broquel. Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido. Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios. Porquanto fizeste do Senhor o teu refúgio, e do Altíssimo a tua habitação, nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos..."
Quão opostas soavam aquelas promessas, no velório de uma pessoa que, não obstante tão crente e de caráter irreprovável, fora atingida por grande mal, tendo no final dos dias o corpo todo ferido por doença que causa grande tormento!!! Imagino que, naquele momento, o questionamento da filha da finada deve ter sido, em silêncio, mais forte do que aquele pronunciado para a mulher que lhe afirmou isso estar distante do nosso entendimento. Que contraste com a promessa divina!
Ah, houvesse mesmo um todo-poderoso a nos recompensar pelo bom ou mau caráter aqui neste mundo! Muitas maldades não estariam acontecendo como acontecem.
Seria bem mais simples para aquela evangélica se utilizasse o argumento da recompensa após a morte, coisa que o crente não tem como avaliar. O difícil é explicar a promessa contida no salmo, enquanto o mal, a peste perniciosa, as catástrofes naturais, etc. continuam atingindo indistintamente bons e maus. Só resta mesmo ao teísta a recompensa póstuma. A realidade está além do entendimento daqueles que nasceram e cresceram ouvindo falar que existe um deus justo.
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