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Contos-->Enquanto dormia, o mundo corria -- 05/02/2002 - 19:23 (Adalzira Cavalcanti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caprichosamente, ajusta a fita vermelha à cabeça. Puxa o vestido de chita, que, gasto pelo tempo e pequeno em seu corpo, mostra partes indesejáveis de sua silhueta. Banha-se com perfume barato, comprado no armazém da esquina. Os cabelos procuram, ante o espelho, o melhor desenho, a fim de atrair o caloroso olhar do cliente. Os lábios surgem, à medida que a cor encarnada do batom impregna e reaviva seus contornos. Friamente, fecha a porta do quarto e procura o buraco da fechadura, auxiliadapela chave quebrada e preso ao chaveiro que ganhou na farmácia do bairro, onde comprou medicamento necessário contra moléstia adquirida numa árdua noite, como seria a que enfrentaria logo mais. Desce as escadas, como se estivesse só em um imenso salão, onde ela era a princesa e a rainha.
As ruas embalam-na materna e intimamente, como fazem com suas outras filhas, que exibem seus corpos, instrumentos ávidos de trabalho e sobrevivência. Desejava uma vida melhor, mas aproveitava a única oportunidade que surgira, pois sabia que, devido à sua raça e classe social, contestar seria tarefa inútil. Acostumou-se a sofrer calada e, após anos luta, afeiçoou-se ao serviço. Tornou-se especialista e muito requisitada, era considerada a melhor do ramo, título que lhe causava extrema satisfação pessoal. Não que isso lhe enganasse a vergonha e a moral, mas empregar-se em tempos de crise era glorioso. Não escolheu tal profissão por prazer, mas sabia reagir bem às intempéries que surgiam. Se alguém infringia as suas leis, era punido severamente.
O silêncio domina a viagem, enquanto caminha, pensa na vida. Suas meditações e fisionomia revelam satisfação.Contempla o céu e as estrelas e finaliza agradecendo-lhes seu brilho.
Cessada a caminhada, pára, cautelosamente, na esquina de sempre, esperando algum freguês. Muitas outras seguem com seu trabalho, aspirando, talvez, a uma vida melhor. Displicentemente, pára um veiculo, defronte àquele beco imundo, frio e malcheiroso. Manda-a entrar. Ela obedece, como uma criança. As vestes do homem atestam suas possibilidades financeiras, era rico o cliente. Caminham alguns metros e ele, novamente, estaciona o carro, desta vez, atordoado. Pela luz dos refletores, ela consegue ver seu rosto e percebe que também era bonito. Ele extirpa-a do carro, estupidamente. Após alguns socos, grita, olhando a comerciante penetrantemente: “Jesus tem poder sobre esta terra, pagarás por todos os teus pecados, Satanás!” Dá cinco facadas em seu peito, que exala sangue para todos os lados. Ela, desfalecida, cai, sem entender o que acontecia.
Permanece caída, com seus adornos, entre a sujeira da rua. O sol nasce e as pessoas transitam, sem a intenção de acorda-la, que não despertará jamais. Enquanto isso, o mundo escreve a história de quem ficou, sem esperar por ninguém.
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