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Artigos-->Olhar mais a Oriente -- 12/01/2005 - 11:11 (Salomão Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pequeno olhar mais ao Oriente





Salomão Sousa







Massificados pela cultura ocidental, sobretudo pelo esgotado cinema de Hollywood e pela literatura de embalagem comercial, é habitual ouvirmos que não há novos autores. Se formos obrigados a pensar sempre na ausência de novos criadores, teríamos de reconhecer só aqueles dos anos clássicos. Basta buscar o recente livro de conferências de Merleau-Ponty publicado agora em 2004 pela Martins Fontes, em que o filósofo francês entende que os modernos não perderam a densidade dos clássicos.

Mas talvez a própria vida tenha adquirido densidade diversa daquela do Classicismo. Temos de reconhecer que o homem moderno não tem mais tempo só para a densidade da arte — tem de ser leve e rápido em várias frentes. No entanto, são essas várias frentes que tornam a vida densa. O homem não enxerga mais só a tela ou a página — tem de se virar para a gastronomia, a política, o turismo, o paisagismo, a sexologia, a religião, as catástrofes das tsunamis¼ Dirão que nos outros períodos tudo isso também estava lá. Estava, mas integrado à vida, e não como artes específicas. Exige-se hoje que cada um desses setores seja praticado como uma arte específica.

Dostoiévski, Balzac, e mesmo Proust não precisavam direcionar olhares para além do que não fossem a escrita e a pintura. Onde eles estivessem, a vida girava intensamente, sem nenhuma leveza para esses destinos. Não tinham que ser rápidos, aforísticos – tudo entrava na sua missão. Não havia banalidade que os desviassem. Se alguma banalidade existisse, era aproveitada nas suas obras.

No cinema há menos desvios do que na literatura. A equipe exige que tudo acabe em convergência, em intensificação dos projetos. Alguns autores às vezes acabam não encontrando as mesmas visões do início de suas carreiras — ilustram o caso Wim Wenders, Copolla, até mesmo Spielberg. Ou Woody Allen, que passou a fazer três filmes para acertar em um — quem ama jazz não pode desconhecer o seu raro filme Poucas e boas. Tem de assisti-lo e de incluí-lo em sua coleção de filmes preferenciais.

Mas eu não diria que há banalidade no cinema de Lars Von Trier ou de Abbas Kiarostami. Talvez o olhar banal do público que veja banalidade de seus filmes. Dogville e Dez, com suas expressões minimalistas, inquietam-nos. Não por falta de narrativa e de contextualização da problemática da modernidade. Inquietam-nos por mostrar que é falso o esvaziamento do real.

Não são só esses cineastas que mostram que ainda podemos interpretar a realidade. Os recentes lançamentos da obra do japonês Yasunari Kawabata – Beleza e tristeza, pela editora Globo; e A casa das belas adormecidas e O país das neves, pela editora Estação Liberdade — vêm reforçar a necessidade da interação do Ocidente com as despojadas formas orientais para compreensão do homem moderno.

A obra de Kawabata, que serve para a germinação do último romance de Gabriel Garcia Márquez – Memória de mis putas tristes – e premiada em 1968 com o Nobel, exige que despojemos nosso olhar ocidental. O ocidental quer tragédias superiores a uma tsumani. O oriental quer a delicadeza de uma glicínia, de uma forma específica de enlaçar o xador ao rosto de uma afegã.

Meu Deus! que paraíso ter embarcado no táxi de Abbas Kiorastami! ter deitado com Eguchi no leito das belas adormecidas. São obras assim que nos levam de volta à nossa humanidade. Quem não enxergar nada nessas obras – pode ter certeza – precisa lastimar o próprio destino.

A banalidade, às vezes, não está na obra, mas no olhar.

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