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cronicas-->Um Túmulo -- 20/11/2001 - 03:09 (Zorba) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um Túmulo

"Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera."

Pe. Vieira

Vinha de uma farra, que começara à tarde e entrou pela noite. Meu espírito achava-se leve, feliz, sem nada lhe causasse qualquer perturbação.
Seguia no meu pálio por uma antiga estrada, conhecida da minha infància, quando, mais adiante, cruzei com o cemitério. Inconscientemente pressenti que o encontraria pelo caminho. Logo que o vi, diminuí a velocidade do carro. Aos poucos fui parando, até estacionar de vez em frente ao portal principal. Não saí do carro, mas fiquei de dentro dele, sensibilizado pela majestosa paz que provinha daquele lugar. Imaginei que, por mais que se estivesse feliz, nenhuma alegria na vida, poderia ser comparada à nobre serenidade dos mortos. Isso me despertou uma curiosa pontinha de inveja, e um sutil desejo de morte assaltou-me a alma. Porque a temíamos tanto, se tudo era só silêncio, sono e ausência de dor?
Particularmente, detive-me em um túmulo que se situava logo à entrada, à esquerda do portal principal, e onde a tênue luz de um poste iluminava a sua laje. Inexplicavelmente deixei-me envolver pela visão daquele túmulo e passei a me perguntar de quem seria, em que época viveu a pessoa que jazia ali para todo o sempre. Certamente presenciou muitos dias de sol, festejou a suave brisa da noite, como eu o fazia naquele instante...amou, teve ódio, trabalhou, aspirou a um futuro melhor para si. Será que gostava de vinho, e filosofia, e poesia? Qual terá sido a sua música preferida, com a qual dançou tantas vezes? E quem terá sido o seu grande amor, a paixão por quem a sua carne tremeu de modo mais violento? Era bem provável que lhe fizesse companhia naquele mesmo cemitério, numa quadra mais acima!
O fato era que tudo o que restara da pessoa que meu espírito, levado por um indizível sentimento de melancolia, tentava em vão conhecer, estava ali para toda a eternidade. Tudo o que fora alguém, com seus sonhos, esperanças, gozos, paixões e futuro encontrava-se preso, para sempre, por paredes de concreto, à mercê do tempo implacável, que a tudo destrói e condena ao esquecimento, até o amor mais profundo.
Aquele também seria o meu destino. Não obstante à deliciosa sensação de viver que naquele momento me arrebatava, um dia também estaria findo, preso por paredes de concreto, com tudo o que fui e senti.
Depois de algum tempo, vim embora. Não triste e pessimista, mas profundamente resignado com o meu destino, o inevitável destino humano. Feliz por viver e saber que ainda alcançaria a comovedora paz dos mortos, a poderosa morte, que nos tira a consciência da vida, mas também nos liberta de todas as dores e nos redime de qualquer dúvida.


Salvador, 30 de out de 2001
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