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Artigos-->DESEJOS -- 03/02/2005 - 01:24 (Welington Almeida Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DESEJOS

Welington Almeida Pinto





Luana sai do banho, vestida para dormir. Deita-se em silêncio ao lado do esposo, que enchia o quarto com seu ronco. Recobre-se com o lençol fino e vira para o canto da parede, pensativa.

Em pouco tempo, um burburinho de vozes sibiladas, vindo do corredor, chama sua atenção. Desce da cama, calça as chinelas e caminha até o corredor que dava para os outros quartos, imaginando ser uma televisão ainda ligada, tarde da noite. Pára diante do quarto de hóspedes e escuta gemidos longos e ardentes vindos lá de dentro. Ao aproximar da porta, que estava entreaberta, sobressalta-se ao ver sua irmã e o marido, completamente nus, numa relação amorosa. Cobre o rosto com as mãos, retrai-se e sai apressada para seus aposentos, recriminando o descuido dos parentes. Tenta dormir, mas não consegue. Rola na cama a noite toda, apreensiva, atormentada pelos seus próprios pensamentos.

Acorda inquieta, nervosa. Durante o café, o marido percebe:

- Nossa, que cara! O que aconteceu, Luana?

- Não se preocupe. Dormi mal – responde secamente.

- Precisa de tanto mau-humor?

- Já disse: dormi mal.

- Calma, Luana, calma. Noto que anda de mal com a vida, complicada até não poder mais. Mal resolvida e chata.

Luana, com desinteresse total, aponta os olhos para a cozinha e grita: - Matilde, veja lá no banheiro se Rubinho já tomou banho. Ou você quer que o menino perde a hora da escola?

Em pouco tempo despacha o filho para a escola e o marido para o trabalho. Não teve ânimo para comer nada, os músculos do pescoço, doloridos, recusavam o trabalho de mastigar. Bebeu apenas uma xícara de café, sem açúcar. E decidiu encarar o dia.

Logo depois os parentes aparecem na copa. O cunhado, muito gentil, aproxima-se da mesa da copa, onde Luana, sentada, fazia uma lista de compras.

- Bom dia, cunhada!

Luana, disfarçando o nervosismo: - Bom dia. Como passaram a noite?

A irmã de Luana, antes de responder, acaricia o rosto do esposo, beija-lhe levemente os lábios e sorri num misto de alegria e malícia: - Bem. Muitíssimo bem! Luana cora. Evita encarar os hóspedes. E convida: - Então, sirvam-se. Erik saiu cedo para deixar o menino na escola. - Pena! Gostaria de ter conversado um pouco com ele – lamenta o cunhado.

Luana sugere:

- Se quiser, vá ao escritório. E voltam juntos para o almoço. O moço, virando o rosto para a esposa: - Benzinho, vem comigo ou prefere ficar?

E com o cenho franzido:

- Será que ainda sei andar em Belo Horizonte? - Claro!... A cidade só está mais perigosa – afirma a cunhada e, depois, dirigindo-se à irmã: – vá, sua boba!... Aproveita para divertir um pouco! - Tudo bem, querido – concorda cheia de dengo.

O casal toma o café e sai. Luana passa a manhã em crise, perturbada, fazendo de tudo para afastar os maus pensamentos da cabeça; fogo e lavas borbulhando no seu cérebro. Via em pensamentos a imagem do cunhado: a boca carnuda, os olhos negros pareciam duas jabuticabas maduras... aqueles braços, aquele peito robusto e nu... a farta cabeleira saltando-lhe pelo rosto jovem.



Na noite seguinte, torna a ter insônia. Depois que o marido dormiu, decide se entreter na biblioteca. Ao passar pelo corredor, observa a porta do quarto de hóspedes novamente entreaberta. Nega. Apressa o passo, entra na biblioteca e começa a folhear uma revista, ainda afundada naquele pensamento. Só deixa a sala, quando não agüentava mais de sono.

Ao atravessar o corredor de volta para seu dormitório escuta sussurros vindos do dormitório. Pensa correr para sua cama. Mas, tocada por uma curiosidade imperiosa, empurra um pouquinho a porta e avista o casal em outra fogosa relação amorosa. Um friozinho seco e arrepiante sobe-lhe pelas pernas e não mais consegue controlar a chama de desejos que pulsava dentro de si.

- Ahn!... Meu Deus!

Em vez de sair, Luana fica ali paralisada, enfeitiçada. Suas faces pegam fogo, as pernas, longas e inquietas, começam a roçar uma na outra, devagar e cheias de prazer. Então decide cometer uma extravagância, não contendo mais aquele arrebatador desejo. Abre o roupão e, de leve, alisa os seios e o ventre ao mesmo tempo até se envolver numa sensação de delírio. Tudo tão intenso!..., e febril. Dobra o corpo para frente, aperta mais ainda as coxas e prende, com rigor, o indicador da mão direita dentro de sua calcinha de renda rosa. Agora!... agora!... O êxtase.

- Ai meus Deus!... – abafa um gemido prazeroso.

Contendo a respiração, leva uma mão à boca, admirada com o que acabou de fazer. Recompõe-se. Na ponta dos pés, entra no seu quarto e encontra o esposo encostado na cabeceira da cama, fumando.

- Fui beber água - justifica.

- Água!....

- Sim. Água!...

- Ora, essa é muito boa! – exclama Erik, apertando o cigarro nos lábios.

- Água, sim. Quer um copo de água?

- Luana, não despista. Vi tudo.

- Viu o quê?

- Você espreitando a transa de sua irmã.

- Pirou de vez, cara!

- Não grite. Invente outra.

- Detesto quem fica me seguindo feito cachorrinho!

O esposo maliciosamente:

- Coisa de cinema!... Manjei seu desfrute até o fim.

Uma vergonha inusitada toma conta de Luana. O cônjuge, estirando-se um pouco mais na cama, confessa que curte muito fitas eróticas e que, numa delas, a cena é igual.

- Não importaria de ver minha mulher novamente praticando o voyeurismo – revela o marido.

- Me respeita, Gilberto.

- Pode ser. E sua irmã, fogosa na cama? - O quê? - Isso mesmo. Como é a mana?

- Não interessa.

- Safadinha!... Aposto que não foi a primeira vez.

Luana abaixa a cabeça, enrubescida: - Tudo bem. Tudo bem. Foi por acaso. O momento foi mais forte do que eu.

- Sua tonta! – brinca o marido, acariciando o ombro da mulher.

- Chega.

Erik espicha a língua e, devagar, se põe a lamber o lábio superior da boca.

- Vamos, meu bem, como é sua mana?

- Não acredito! – Luana lança-lhe um olhar de censura.

- Seja boazinha.

- De jeito nenhum.

O Marido, depois de pensar um pouco:

- Querida, caretice tem limites.

Luana:

- Imbecil!... Não estou bem, preciso dormir.

- Nã... nã.... Tenho planos para nós.

- O que é que você quer?

Erik rindo cinicamente:

- Se estão facilitando assim, aposto que topariam um swing?

- O que é isso?

- Ora, não sabe? Cadê sua experiência?, sexo grupal.

- Você está louco.

- Não exagere, querida?

Os dois ficam calados por um momento. Ele acende outro cigarro e solta a fumaça aos poucos, observando os rolinhos que sobem pela parede. Perplexa, ela franze a testa e atira os olhos na direção do crucifixo com um cristo que pendia sobre a cabeceira da cama.

- É preciso ser muito ordinário para me propor isso.

Erik agarra-lhe o braço:

- Satisfaz a voluptuosidade, meu bem. Dizem que é uma experiência que pode até salvar um casamento desgastado como o nosso, atolado até aqui em rotinas.

Luana abaixa a cabeça. Com uma das mãos, enxuga os olhos. Em seguida, bate palmas num movimento suplicante:

- Chega. Não agüento mais!

- Não vai dizer nada?

- Nada.

- Tudo bem. Reconheço que está esgotada, precisa descansar.

A mulher não responde, vira-se para o canto da parede e puxa a coberta para cima de seu rosto. Erik não se conforma. Levanta o lençol, descobre a cabeça e as costas da esposa e começa acariciar suas coxas. Em seguida, circula o corpo dela no seu e acaricia-lhe a nuca. Ela se contorce e recusa:

- Não... não... Quero dormir.

- Dormir!... Antes, meu bem, vem cá.

- Deixe-me em paz.

O homem, indiferente, prende o rosto da mulher entre as mãos e dá um beijo no seu queixo, depois lambuza-lhe os lábios de saliva com o gosto de nicotina. Apalpa-lhe os seios, as curvas da cintura e declara em tom amoroso.

- Não posso negar que você tem muito vigor nesse corpinho de anjo.

- Me deixa.

- Ah, sua tonta!... Você sabe bem como me excitar.

Sem escolha, ela cede. Por baixo, o queixo afundado no ombro do cônjuge, nem parecia estar ali, tão longe vagavam seus olhos e o pensamento. Depois do coito, se desgruda dele e, cheia de cólera, deixa o quarto e entra no banheiro.





Os hóspedes partem no outro dia. Dias depois, Erik retoma o assunto do swing. Ela recusa. Ele insiste. Durante um mês foi assim, até que, convencida de que não tinha mais forças para resistir à insistência do marido, aceita visitar um Clube Prive numa noite de sábado de verão.

O casal chega e se acomoda ao lado da piscina, onde homens e mulheres se divertem num depravado entretenimento sexual. Ao ver aquela cena, Luana se espanta e ameaça sair. O marido reage:

- Sente-se. Vamos, é uma ordem.

- Dá licença. Isso aqui me choca.

- Pssiu! E deixe de não-me-toques.

- Estou aflita, posso? Um pesadelo.

- Controle-se.

- Tenho de fazer sexo?

- Você que escolhe.

- Imoral.

- Tudo bem. Não precisa fazer essa carinha de nojo. O esposo alisa seus braços:

- Você não é obrigada a nada. Teve muito tempo para pensar e resolver essa crise de identidade.

Erik enche o copo de cerveja, com cuidado, atento à espuma. Nisso, a recepcionista do Clube se aproxima trazendo um casal para apresentar aos dois. Ao ver a beleza da desconhecida, pousa o copo na mesa e fica de pé, ao seu lado, todo risonho.

- Olá.

- Muito prazer, Sofia. Meu marido, Oscar.

- O prazer é meu, quer dizer: nosso. Aquela é minha esposa.

Luana mal cumprimenta o casal. Mas, o homem que chega, corpulento e sangüíneo, se curva para ela, estende-lhe a mão e pede licença para ficar na poltrona ao seu lado.

Cheio de gestos, Erik continua cortejando:

- Hummmm!... Mais parece uma artista de cinema.

- Obrigada. Acha mesmo?

- Sim.

- Não vai ser cavalheiro e me convidar para sentar?

- Não. Pensando bem, melhor deixar os dois sozinhos.

- Espertinho!...

Erik segura a moça pela cintura, cochichando:

- Pode ser, linda. Você é a fantasia que todo homem sonha.

- É?

- É. Nunca vi pescoço mais formoso!...

A mulher suspira. Beija-lhe uma das faces:

- Você sabe encantar as mulheres, mocinho.

- Obrigado. Sofia é mesmo seu nome?

- Quer mesmo saber?

- Não. Sofia me basta.

- Nome de uma deusa.

- É a deusa mais bonita que já vi.

Ela ri.

- Sabe de uma coisa? Você faz bem esse tipo de sedutor.

- Acha mesmo?

- Acho.

- Que tal deixar os dois sozinhos?

- Já. Não é melhor dar um tempo na mesa.

- Não. Aqui tem lugar mais tranqüilo para nós dois. Topa?

Sofia olha na direção de Oscar.

- Bem, talvez.

- Talvez?

- Ai... não consigo pensar quando estou assim tão estimulada.

- Ainda bem. Eu cuido de tudo.

- É muita gentileza sua, obrigada.

A mulher sorri, vaidosa. Uma bela e atraente criatura, a pele cor de jambo, cabelos longamente negros, boca de lábios generosos e olhos castanhos, excitados com o ambiente perverso do Clube. Trajava um vestido sedutor, negro e colado no corpo, e os seios expostos pela metade. Decidida, não fica muito tempo exposta aos olhares de Luana. Num gracioso movimento de ombros, pega Érik pela mão e puxa o marido da outra pelo meio do salão, aceitando o convite para conhecer uma das suítes especiais.

Luana arregala os olhos de espanto. Nervosa e trêmula, leva as mãos à boca, balbuciando palavras inteligíveis. Ameaça ir embora outra vez. Mas, foi impedida pelo esposo da outra, que afaga sutilmente seus braços.

- Calma, princesa, você está ótima. É verdade.

- Gilberto é mesmo um maluco – maldiz Luana, mordendo os lábios.

- Não acha que está perdendo tempo pensando no maridão.

- Crápula!...

- Esqueça. O que posso fazer para lhe agradar.

- Nada. Não pode... não quero.

- Vou mostrar a você como me excita.

- Não. Você está perto demais, assim mal posso respirar.

- Você me atrai.

Com o rosto quase encostado no dela, Oscar estende um dos braços nos seus ombros e mordisca, de leve, sua face nervosa. Luana vira o rosto. E solta um gritinho assustado, quando a outra mão dele acaricia-lhe os seios, escorrega pela barriga e se enfia debaixo da roupa. Sem saber o que fazer, ela dá uma sacudidela e segura com força a beirada da saia.

O estranho recua um pouco, indignado com a rejeição. Acende um cigarro, traga, prende e solta a fumaça vagarosamente, indagando:

- Ele é mesmo seu marido?

- Marido.

- Arrisco dizer que já está no bem-bom com minha mulher.

- Mas..

- Mas o quê?

O homem dá outra tragada.

- E nós?

- Se eu não quiser?

- Por que não vai querer?

Luana esconde o rosto nas mãos:

- Maldito, Erik! Maldito!...

O homem, contudo, ignora o tormento de Luana. Apaga o cigarro no cinzeiro, segura o queixo da mulher, lambe-lhe as faces com a língua áspera e volta a colocar a mão por baixo de sua roupa para sentir, outra vez, a pele delicada de suas coxas.

- Gosto de acariciar seu corpo.

Ela implora:

- Moço, me larga.

- Você tem a barriga mais gostosa que já vi. Numa boa, me dê uma chance de chegar lá.

- Me deixe.

- Ora essa!... Não me diga que veio aqui para rezar.

Luana levanta para o desconhecido os olhos úmidos. E suplica:

- Moço, por favor.

- Deixe de ser chata. Vamos, colabore.

- Não posso.

- Pode. Serei delicado, eu prometo. Mas, quero mais.

- Preciso ir embora.

- Só depois. Antes, nem pensar.

Acuada, Luana aperta com força a boca do estômago e, numa atitude inesperada, desabotoa a blusa, puxa a saia para cima da cintura e abre as pernas.

- Se é isso que você quer – diz numa voz entrecortada de dor.

- Aleluia!

O homem mal acredita. Passa a língua nos lábios molhados de cerveja e solta um risinho cínico. Desabotoa-lhe a alça do soutian e suga-lhe os seios, as orelhas, a cara toda... depois o ventre, o umbigo... os pêlos, frios e secos.

- Lindinha, tire a calcinha e mostra logo o que tem por baixo.

Indiferente ao que estava acontecendo e sem ânimo para lutar mais, ela mal sacode a cabeça. Ele, encharcado de suor e luxúria, rasga a peça íntima de Luana, que estremece mais ainda quando o corpo do animal cai penetrando sobre o seu numa diabólica descarga sexual ... estocando... cavalgando... cavalgando ... até esgotar a última gota de lazer. Uma eternidade. Uma imundície!...

Luana chora fininho. E depois de um suspiro doído, enxuga os olhos com o dorso da mão esquerda, veste a roupa, limpa o rosto e deixa o Clube em silêncio, exausta.

A vida agora, pesava-lhe mais.

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