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Artigos-->Eu e mais dois -- 06/02/2005 - 08:40 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu e mais dois





Ufa! O carvãozinho está sumindo aos poucos. Teremos alguns poucos meses de saúde preservada. Agora que sabemos da preferência do jauense pelo carvão, ou pela chuva de cinzas, que cai do céu em noites estreladas. Até certo ponto a gente tem de aceitar também, visto que não há outro remédio quando a maioria absoluta tem suas tendências. E essas tendências foram confirmadas diversas vezes pela falta de apoio das pessoas que se omitiram, quando não foram à Câmara Municipal. Apenas duas donas de casa contra o carvãozinho compareceram à Câmara e ainda assim foram impedidas de se pronunciarem, quando o debate, segundo foi divulgado, permitia a qualquer cidadão o uso da palavra por pelo menos cinco minutos.



Mas, no nosso ponto de vista e acreditamos que toda pessoa democrática deve ser assim, quando a maioria ganha a minoria deve baixar a bola e esquecer o assunto. Se a maioria em Jaú não moveu uma palha para combater o carvãozinho, além de gastar água em abundância e fazer grandiosas faxinas em sua casa, e ainda reclamar anonimamente, então está mais do que confirmado de que a maioria deseja ardentemente o carvãozinho, despencando em seu quintal, em sua piscina, em seu telhado, em sua garagem e por toda parte.



Como dizem dois vereadores: “o corte de cana garante o emprego de muita gente”. Acredito que sim. Contudo, afirmamos que tal emprego é mais uma versão moderna de escravidão do que propriamente emprego. Qualquer um sabe que na falta de emprego o ser humano se sujeita a qualquer tipo de trabalho. O sistema econômico capitalista costuma usar o desemprego como chantagem, para pagar um salário inadequado ao trabalhador, mesmo que este trabalhador use todo o seu potencial físico num trabalho estafante, correndo até o risco de contrair doenças incuráveis, ou fatais. Isto é comum em qualquer país, apesar de ser desumano e errado. Mas, quem é que trabalha certo no Brasil e em outros países de economia capitalista? Penso que muito pouca gente. O fato é que a minoria “montada no dinheiro” pouco está se lixando para o sacrifício dos operários do campo e principalmente no corte de cana.



Comparando com as cidades satélites de Jaú, o emprego aqui está mais polarizado no setor calçadista. São poucos os que se aventuram no corte da cana. É verdade que o Distrito de Potunduva tem um contingente grande nesse trabalho rural. Mas, apesar de pertencer ao município jauense, aquele Distrito um dia romperá o cordão umbilical e cuidará de seu próprio destino. Sendo assim, Jaú irá permanecer num trabalho quase que exclusivamente industrial, comercial e educacional. Se as promessas dos políticos se concretizarem, o que duvidamos.

De qualquer maneira a cidade de Jaú não vive com uma maior exclusividade do campo, semelhante à Barra Bonita, Igaraçu, Mineiros, Dois Córregos e outras cidades. O jauense é um cidadão quase, ou totalmente urbanizado. Os tempos da roça, do sítio e da fazenda ficou lá no passado. Quem tem uma grande propriedade rural, usa métodos da moderna tecnologia para explorá-la com proveito. Já aqueles que possuem sítios, aproveitam para o próprio lazer, ou alugam para explorá-lo quando não estão ocupando-os.



Neste caso, nós que aqui residimos e não temos nenhum vínculo com os produtores de cana, nem com os cortadores de cana, temos o legítimo direito de reclamar de algo que prejudica nossa saúde. Em junho de 2001 fiquei doze dias internado na Santa Casa com pneumonia dupla. O médico perguntou-me desconfiado, várias vezes, se eu fumava. Não! Respondi várias vezes. Ainda assim ele desconfiava de mim. Mas, eu sabia que a fumaça do gigantesco cigarro que eu fumava, estava em toda parte. Gostaria de morrer por outro motivo, não por pneumonia. A gente não pode respirar. E a tosse seca castiga o pulmão. E dói e machuca por dentro. No quarto em que eu estava havia três com pneumonia. Eu e mais dois.

Sobrevivi. Os outros dois não sei.



Jeovah de Moura Nunes

poeta, escritor e jornalista



(publicado no jornal “Comércio do Jahu” nº 26174, de 09 de dezembro de 2004, página 2)

























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