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Poesias-->O ESPIRITO DE NICA -- 23/03/2002 - 20:30 (Ari de souza) |
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A unidade sonora dos passos
Sinaliza
O movimento dos tacos
Despregados no chão.
Nica achou o perfume
E pingou duas gotas
Na dobra das orelhas.
Massageou com os pulsos.
Mário, rápido
Confere outra ronda
Pela minúscula sala.
E mesmo com a porta cerrada
As gretas deixaram escapar
O deleite que as ervas despertam.
- não demoro, já vou. Disse Nica.
Mário imaginou vê-la
Saindo pela porta.
Mas ela não conseguia
Tampar a velhice do tênis.
Olhava pelos buracos da fechadura
Na sala,
Mário marchava impaciente.
Então ela voltava
Para a simples e revoltante tarefa
De traçar os cardaços de pontas desfiadas.
Havia insistido muito
Acho que dois meses
Mas não sobrava
Dinheiro algum
Para comprar um novo tênis
Pelo menos um par de cardaços.
Nada, coisa alguma
Hipótese remota que só
Deus sabe quando...
Expressava sua mãe
Num quase falar difícil
Que baixava seu olhar fechado
Enquanto Nica protestava
- assim não dá!
Fazia um cuspe
Molhava as pontas
Os tacos estralavam
Após o peito-do-pé de Mário
Subir para abocanhar outro adiante.
Embora ao primeiro toque
As finas pontas molhadas
Grudavam nas laterais
E curvavam-se sob o olhar
Oblíquo de Nica.
A dor de barriga
Prenunciava esse mal estar de mundo
Quando de repente
Nica se deu conta:
A sala estava silenciosa.
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