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cronicas-->PRIMEIRAS LEITURAS -- 22/11/2001 - 14:37 (Nilto Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Em 1962 li, pela primeira vez, um romance, um grande romance: Quo Vadis?, de Henrk Sienkiewitz. Contava 17 anos de idade e acabava de chegar a Fortaleza, vindo da pequena Baturité. Antes deste, havia lido apenas três livros: Três Figuras: o Frade Poeta, o Padre Voador e o Frade Preceptor, A Mulher do Caixeiro Viajante e Pussanga. O primeiro o li durante um retiro no colégio dos salesianos, onde estudava, em setembro de 1961. Convidado a conhecer a biblioteca do colégio e a retirar um livro para leitura, depois de alguns minutos de pesquisa, interessei-me pelas três figuras. Talvez por se tratar de um dos poucos livros mais ou menos profanos da pequena biblioteca.
Entusiasmado, busquei novas leituras. Desde cedo eu gostava de ler as antologias escolares, não somente aquelas da série em curso. Lia também as de meu irmão Ailton. Além do mais, havia em casa alguns livros, do irmão mais velho, Amadeu, que saiu de casa por volta de 1957, deixando a biblioteca. Encontrei o livro de contos de Peregrino Júnior. Dias depois, mais curioso, folheei um romance obsceno, de autor desconhecido, certo Alcides Vaz.
Antes desses quatro livros, conhecia apenas um pouco dos clássicos, nas antologias escolares: poemas, contos, trechos de romances e relatos históricos. Portugueses quase todos; alguns brasileiros. Nada dos modernistas ainda.
Já preparado para leituras mais agudas, logo me aproximei de A Besta Humana, de Zola. Durante e logo após a leitura dele eu senti profunda repugnància pela nossa espécie. Então éramos aquilo? O céu me parecia sempre escuro e baixo, como se fosse chover muito, desabar tempestades duradouras. As ruas tristes, as casas esconderiam assassinos, as pessoas tramavam, em silêncio, bestialidades inomináveis. Vivíamos o ano de 1963. Senti arrepios, sim, porém já com olhos de leitor-crítico.
Seguiram-se Os Sertões, Agulha em Palheiro e Amor de Perdição. O livro de Euclides me pareceu obscuro, sobretudo a primeira parte. Mesmo assim, não tive, em nenhum momento, vontade de abandonar a leitura dele.
Lida a pequena biblioteca doméstica, sem dinheiro para comprar livros nas livrarias, restavam-me as ruas Guilherme Rocha e Liberato Barroso, onde se vendiam, nas calçadas, a preço de banana, livros usados, roídos de traças, sujos, páginas amarelecidas, rasgadas, anotadas. Alguns nem capas tinham mais. Havia livros de todos os gêneros, dos mais variados autores. Nenhum deles, porém, eu conhecia. Nada daqueles nomes das antologias escolares. Nada de Camões, Machado de Assis, Herculano, Alencar, Bilac e outros citados e analisados em sala de aula. Então quem seriam aqueles dos livros das calçadas? Seriam bons escritores? Valeria a pena ler aqueles livros tão antigos? Os nomes não me eram familiares, todos ingleses, franceses, alemães. Folheava um volume, lia um trecho, apanhava outro, espirrava, tanto era o pó acumulado em suas páginas ao longo dos anos. Depois de algum tempo perguntava o preço de um volume grosso, capa vermelha, título curioso. E ia comprando e lendo romances góticos, novelas de cavalaria, contos fantásticos, misteriosos.
Nunca mais parei de ler, eu sei. Nada, porém, me faz lembrar os li-vros lidos naqueles anos.
Entre outubro de 65 e setembro de 67, li cerca de trinta livros, numa média de mais de um por mês. O primeiro deles foi O Amanuense Belmiro. Á falta de outros, reli Quem Perde Ganha, de Graham Greene; A Tragédia de Zilda, de Menotti del Picchia; A Volta ao Mundo em 80 Dias; A Brasileira de Prazins; e Sete Palmos de Terra. Seguiram-se O Moço Loiro, Iracema e Ubirajara, em janeiro de 66. De José de Alencar li ainda, nessa primeira fase, (não recordo o ano) O Gaúcho e Senhora. Cinco ou seis anos depois, reli o primeiro destes. Passaram-se mais dez anos para reler os dois primeiros e pela primeira vez conhecer O Guarani e O Sertanejo.
Em junho de 66 li Eurico, o Presbítero, de Herculano, e O Vinagre e a Sede, de Sinval Sá, meu professor de português. Seguiram-se Clara doa Anjos, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Memorial de Aires, As Relações Perigosas (de Laclos), A Mortalha de Alzira, (de Aluizio Azevedo), Poemas de Verlaine, Quincas Borba, os Pensamentos de Pascal, umas novelas do Marquês de Sade, Os Vegetarianos do Amor (de Pitigrilli), uns "Contos escolhidos de Machado de Assis", Ascànio (de Alexandre Dumas) e Jóias do Conto ídiche, que muito me impressionou. Lembro-me também de dois romances, em edições antigas, que mantive comigo durante muito tempo. Não sei quando os li. São A Última Encarnação de Vautrin, de Balzac, e A Fossa, de Alexandre Kuprin.
A partir de maio de 67 a biblioteca do Colégio Municipal de Fortaleza, onde estudei, me proporcionou também boas leituras. Lembro bem de grossos volumes intitulados "Maravilhas do Conto": norte-americano, moderno brasileiro, italiano, fantástico e russo. Fascinou-me nesses contos a oportunidade de conhecer o melhor da literatura universal. Ora, em pouco tempo conheci Guimarães Rosa, D´Annunzio, Trilussa, Pitigrilli, Moravia, os russos, pilares da ficção curta.
Muitos e muitos livros lidos naqueles anos caíram no esquecimento. Não sei precisar quantos. Recordo, no entanto, de ter vendido (não lembro quando) mais de quinhentos volumes, todos lidos, a um desconhecido, um comprador de livros velhos, talvez um daqueles vendedores da Rua Guilherme Rocha. Poucos se salvaram desse ato mercantil: Os Sertões, Agulha em Palheiro e Jóias do Conto ídiche.


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