Tanta coisa na vida me faz falta
Um cheiro
Um gosto
Uma manhã de janeiro
Uma noite de agosto!
E como seria bom se agora (e a toda hora)
Pudéssemos ter na vida
Uma grande trilha sonora
Que nos soasse aos ouvidos, meio que vindo do nada
Meio que indo pro nada
Como num grande espetáculo (ou num grande picadeiro)
Saída de um automático
E particular cancioneiro.
Seriam bons, tão bons, nossos momentos
(Que já são tão bons), somada aos nossos sentimentos
Uma pauta indizível de canções:
Marisa para os abraços,
Vinícius nas declarações.
Queria ter Jobim aos meus ouvidos,
No regaço das curvas do teu vestido.
Queria Djavan nas despedidas
Pra pedir que não me abandones
Nos teus passos, queria ter Caetano
Nos teus lábios, queria ter Leoni
Queria Francis Hime ao piano.
E se por acaso, nosso amor não der certo
Certamente é por culpa de nunca termos por perto
Alguém que cantasse o amor assim.
É culpa do silêncio que há no mundo
É culpa do barulho.
Todo amor pra ser bem infinito
Nada precisa, senão ter sua própria canção,
E até o silêncio deste versado
Se então devidamente acompanhado
Seria, sempre, muito mais bonito.
Rogério Penna
mar. 2002 |