Vitalina.
Como disse minha vó Vitalina quando colhíamos café maduro no quintal da casa dela certo dia:
"Se a tentação passar por você, meu filho (ela me chamava de filho), e for uma tentação muito forte e muito gostosa, você tem um único caminho a tomar: Pense em Deus..."
- E peque!
Minha vó fumava, e guardava o fumo picado numa latinha meio enferrujada de manteiga Aviação. Delicadas palhas de milho, dobradas, cortadinhas, amarradas num laço de barbante antigo, esgarçado. Vitalina: eu não me lembro dela morta. Vejo-a de porta aberta, na privada do quintal, limpando-se por frente com um pedaço de papel de pão. Talvez por isso é que hoje detesto ver mulher fazer xixi: nenhuma imagem pode se sobrepor a essa que tenho viva de minha vó.
Nenhuma.
Toda tarde, na janela do quarto, me aguardava passar voltando da escola. Todo dia me olhava lá de cima, sorrindo, eu lhe pedia "bença, vó!", ela respondia "Deus te abençõe...", - e então fechava a veneziana e se recolhia para rezar suas rezas de amor.
- Minha vó!
(De mais ninguém.)
Um dia ela me deu o melhor conselho da minha vida:
"Estude muito, não se case nunca e jamais tenha filhos!"
Esta é a receita básica do sucesso.
Fora disso não há salvação.
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