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Contos-->Liberta -- 10/02/2002 - 10:31 (Maria Abília de Andrade Pacheco) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Assim como saí, cheguei, e digo que muito disposta a recomeçar de onde parei. Não me pergunte nada, que nem mesmo eu tenho uma resposta pronta e acabada. Só entendo que vou recomeçar tudo, pensando bem. Vou ser outra, aprimorar algumas coisas, repensar as mais e sair, enfim, renovada, para novas batalhas. A que senta na cama e se inclina para retirar as meias serei eu? Ou será ela? Sei que a que fui há mil anos já ganhou nova textura e, de tanto sobrepor peles acabou se transfigurando. Hoje sou a deste minuto. Onde andará meu álbum de fotografias? Aqui, empoeirado, desfolhado, amarelecido, o pobre. Esta menina com jeito de quem vive aquela época nunca fui eu, e só agora percebo. Aquele viço na pele, aquele olhar de buscar futuros perdeu-se no entra-e-sai de angústias e experiências malsucedidas que nenhum sucesso conseguiu trazer de volta à luz. As energias foram-se. Hoje, o máximo que posso é recomeçar e recomeçar, mil vezes por dia, sem tirar o pé do lugar. E nesse intuito quero me pegar no novo, no que tenho para mostrar ao mundo. Sobressai o que sou e sempre fui. Todos me querem de um jeito, e aí eu sou a cara de mim. Não me é permitido aperfeiçoamentos. Vim, vi e venci, e sou esta. Assim, xeque-mate. Não me é dada nenhuma licença poética. Olhe, você é essa assim-assim, de óculos, cabelinho partido de banda, roupa de freira, essa daí, e é isso que queremos todos, para o bem da humanidade. Generosa, aceito o rótulo. Fiquem comigo, que perco a voz e desapareço num segundo, isso é fácil. Todos sorriem aliviados, e desfiro um golpe mortal naquela que me asssalta. Parei nos anos oitenta. Sou aquela daquela época, mesmo não querendo, mesmo brigando com o mundo para me firmar em carreira solo, libertando-me em outras energias. Mas o mundo não me quer assim, fazer o quê? Todos querem viver, ou pelo menos saberem-se vivos, e esta eu repaginada sempre será uma ameaça, mensageira da morte, assinalando que não existe nem nunca existiu aquela mártir que tantos querem e rezam para que prevaleça. Mas agora estou me vingando: serei agora esta que sou eu, uma que nem mesmo eu desconfio quem seja, uma que virá me surpreender de madrugada com manto roxo e manchado de vermelho. Vagarei cada cômodo da casa, apalparei os restos do dia, despejarei propositalmente água nos cantos empoeirados para desinfetar cotovelos de muitas décadas. Farei faxina noturna à luz de velas, e rezando ladainhas intermináveis. Depois, no chão limpo, deitarei o corpo cansado e sonharei com todos os sonhos que um dia tive e que agora penso já ser hora de serem ressuscitados. Para serem sonhados como se deve. Assim cumpro.
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