Sábado não deveria ser dos sozinhos. Deveria virar decreto: temos que ter alguém no sábado. Que seja o amor de mãe ou a lembrança do pai, mas alguma coisa, não importa tanto o que. O domingo parece não ser dia. Se assemelha a uma obrigação, por isso o sábado deveria ser o dia. O dia do infiel que virou fiel. O dia do maior porre na noite do Rio de Janeiro. O dia da lembrança de um cabelo preto e olhos azuis (?), que corre no corredor do trem. É para sábado: a comida da avó, o beijo mais ardente do namorado ou o abraço do amigo. Até sexo é para sábado. Sendo assim, o domingo nem precisa ser dia, estamos sem forças mesmo. Talvez os sozinhos gostem da sexta feira. Alguma esperança tem para sábado: o telefone que irá tocar, o e-mail que vai ler ou uma visita a receber. Todos os sonhos para sábado.
Porém, somente os solitários cantam a melodia desse dia. Somente quem espera muito encontrar razões para defender o decreto. Quem está feliz, quem está amando, ou simplesmente, quem quer tomar um porre, não ousa protestar.
No final das contas todos estamos sozinhos no sábado: na hora do cigarro depois do sexo, quando o marido deixa a mulher para ver futebol. Quando a mãe deve ir para casa, depois de ajeitar a casa do filho. A irmã, o irmão já sentem saudade de outra vida senão a de costume e o porre que te leva para casa sozinha depois de tanto dançar, sorrir e olhar.
Sábado deveria ser, para aqueles que viajam, a volta para casa, uma viagem com os pais. O dia em que a filha deita no colo do pai para aprender futebol. A hora em que a mãe pergunta: _ Minha filha, o que deseja comer hoje? Tem dias em que se deseja comer amor de mãe, somente. Sábado deveria ser do irmão mais novo que se dirige para uma fazenda para mostrar com se pesca, limpa o peixe, come e conversa, até que nossos maiores segredos sejam desvendados como o pobre do peixe morto. Sábado deveria ser do irmão mais velho, que escolheu ficar em casa o dia inteiro vendo filmes com a irmã. A casa da melhor amiga estaria ao lado da sua. Nesse sábado iríamos lembrar como éramos felizes. Como projetávamos o futuro sem projeto algum.
Meus sábados não são assim. São lembranças de esquecer sábados. Esquecer a manhã, tarde, noite, dias frios, dias quentes, tudo. Absolutamente tudo. Para que, enfim, eu possa pensar: no próximo sábado, mesmo se estiver sozinha, estarei feliz.
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