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Artigos-->Um profissional polivalente -- 06/03/2005 - 21:45 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um profissional polivalente





Desde que entrei na profissão de comerciante, em meados de 1974, comecei a sentir os revezes de uma vida dura, difícil e ingrata em determinadas situações. Até aquele ano trabalhara como secretário em grandes empresas na capital dos paulistas. Um dia um superintendente idiota de uma empresa, pediu desculpas aos seus executivos pelas pernas feias de sua secretária. A tal secretária era eu, homem mesmo da cabeça aos pés. Não tive dúvidas. Atirei a pasta recheada de documentos da pauta do dia sobre a imensa mesa de reuniões, voando papel para todos os lados e mandei todos para a... Bom, para o lugar que nós já conhecemos.



Satisfeito, apanhei meu paletó e ganhei a rua. No Largo do Arouche, num bar chamado “Pingão”, passei o resto do dia tomando cerveja e imaginando o que seria de minha vida a partir de então. Em casa levei um sermão da esposa. Ela não compreendia o meu orgulho ferido e já cansado de pular de galho em galho, em razão da prática da rotatividade muito comum nas empresas daquela época, com a finalidade de manter o mesmo salário ao contratar outro idiota secretário. Vivíamos a terrível época da ditadura. As mulheres com suas elegâncias invadiam as empresas e acabavam com a profissão masculina de secretário. Aceitavam qualquer salário e nem taquigrafia elas sabiam. Algumas nem mesmo datilografia. Mas, lá estavam a dar status social com suas belezas aos empresários.



No Largo da Concórdia vi um garoto vendendo toucas de lã. Comprei uma e levei para casa. Mostrei a minha mulher e ela imediatamente fez dez toucas a pedido meu. Uma mais bonita que outra. Levei para o Braz no dia seguinte e vendi tudo. Pela primeira vez em minha vida o dinheiro entrava no meu bolso sem nenhum favor. De auxiliar de engenheiro agrônomo, chefe de departamento, correspondente e secretário virei num piscar de olho um camelô, em meio a tantos outros.



Daí por diante descobria o “ninho da cobra”. O dinheiro começou a entrar como enxurrada e pude em pouco tempo comprar um TL usado, mas novinho em folha. Era o ano de 1975. Tive que me adaptar aos novos tempos. Dificilmente um homem que se acostumou a trabalhar como empregado, é capaz de adaptar-se às ruas e principalmente ao ambiente hostil, adverso e perigosíssimo de uma grande cidade, lidando com pessoas aos milhares por dia. E o pior: aceitar sem discutir as injustiças, traduzidas por fiscais corruptos, policiais corruptos e o assédio da bandidagem. Em 1979 abri minha primeira loja. Era pequena, mas bastante movimentada. Minha mulher passou a acreditar em mim e com sua ajuda as coisas melhoravam ainda mais. Em um ano não havia mais espaços para os estoques. Comprei outro carro, uma variant 75. Fui obrigado a comprar linhas telefônicas para controlar a loja mesmo à distancia. Trabalhava como um louco. Naquele tempo não havia orientações técnicas de como dirigir um negócio. Tudo era novo para mim e tive que apelar para o empirismo.



Em 1982 comprei uma loja próxima ao Largo do Cambuci e tudo corria muito bem para mim. Um dia entrou em minha loja, em São Caetano do Sul, o irmão do Lula, pedindo colaboração para as greves do ABC que iriam começar. Discutimos e acabei por expulsá-lo da loja. Afinal o homem queria que eu pagasse (colaborasse) com aquilo que poderia significar a minha falência. Anos antes, fui praticamente expulso do sindicato dos metalúrgicos lá de São Bernardo, onde o próprio Lula não quis me receber. Vendedor da Sharp fui encaminhado para fazer um orçamento de algumas televisões ao próprio Lula. De início fez-me sofrer duas semanas tomando chá de cadeira. Depois mandou um guarda-roupa assegurar-se de que eu iria embora. Enfim, uma pessoa deselegante, sem educação e incapaz do diálogo. Pelo menos naqueles tempos. Pode ter melhorado agora. Um pouco tarde já que a escalada do PT vai-se tornando agora uma descida. O povo sofrido vai aprendendo, principalmente o povo paulista da capital.



As greves naquele fatídico ano aconteceram. O comércio no ABC sofreu terrivelmente. Muitos quebraram. Eu não quebrei porque era um simples camelô. E se não vendia na loja, vendia-se nas ruas em São Paulo, onde as greves tiveram menor repercussão.



Resumo da ópera? Nunca devemos nos apegar a uma só profissão. E principalmente agora que vivemos os tempos globalizados. Qualquer profissão que aprendermos será de grande valia, no momento em que o atual trabalho começar a fracassar. A globalização pode estar transformando o mundo, porém o trabalho com as mãos, os chamados manuais, jamais se extinguirão. Não devemos aceitar tudo que as empresas, e/ou o mercado querem que nós acreditemos. Um simples computador em casa pode resolver tudo, se a pessoa for polivalente, isto é, um doutor faz tudo. Caso contrário, de nada servirá, a não ser para matar o tempo também globalizado e bem por isso difícil de morrer.



Procure tirar o seu diploma na universidade onde se faz de tudo, que é senão a experiência de viver. Seja um Dr. Faz Tudo. Seja um profissional polivalente e certamente será muito feliz como fui e sou até hoje.



Jeovah de Moura Nunes

poeta, escritor e jornalista



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