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Artigos-->Lendo Leminski: Caprichos e Relaxos -- 01/05/2000 - 11:28 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lendo o livro Distraídos Venceremos, para explicar a meu irmão mais novo que tentou o vestibular, noto que Paulo Leminski adverte que está rompendo com a poesia referencial. Como isso equivaleria a se proclamar adepto da arte pela arte, Leminski avisa que não rompeu com a realidade. Ah, ainda bem, pois essa seria uma hipótese estranha num admirador de Trotsky, cairia melhor num seguidor de Mallarmé. [Aliás, anos atrás Affonso Ávila discutiu essa questão da poesia referencial, vale a pena lembrar. Um livro que poderia entrar no vestibular é o Sonetos da Descoberta, do patriarca Ávila, até para poder ser melhor avaliado, pois o livro parece órfão de pai, é difícil encontrá-lo.]

O poeta, filho de polonês, mais que da diferença, tira o seu encanto da ambivalência, dos vacilos e acertos citados no título. Um dos motivos dessa oscilação é, a meu ver, a insistência em ser continuador da desconstrução. O poeta paranaense se pretendia continuador dos concretos, que por sua vez pretendiam ser o ponto final do legado ideológico-artístico modernista, e que depois liquidaram o próprio sujeito, eliminando também a pesquisa interior e psicológica, degenerando finalmente no encerramento na torre de marfim mallarmaica, de onde lançam "pérolas para poucos".

Diante dos inevitáveis dilemas, Leminski parece ter adotado uma postura eclética [ou o ecletismo]: na posição de discípulo dos concretos, ganhou diploma de vanguarda e, para ele, abriram-se as portas das editoras, revistas literárias, parcerias musicais, etc. Mas, sabendo das limitações dos caras, Leminski proclamou sua simpatia pelo livro Literatura e Revolução, de Trotsky, gesto que marcava o seu engajamento, buscou o orientalismo, a prosa pop de John Lennon, Bob Dylan, Waly Salomão e outros, estabelecendo sua diferença geracional com os concretos. Mas será que concordava com a afirmação de Trotsky (que Octavio Paz encontra nesse livro), de que Maiakóvski (mais vale morrer de vodka que de tédio!) era mais boêmio que revolucionário? Pois, afinal, o mesmo pode ser dito do poeta de Distraídos Venceremos.

Só não compreendi o porquê dos ataques aos beatniks que Leminski fazia na finada revista Leia, dizendo que Jack Kerouac era pura besteira e coisas assim. Os beats têm um bom poeta Zen, Gary Snyder, e outros com bons momentos. De mais a mais, o próprio Leminski adota o procedimento de Keroauc, ao escrever espontaneamente sobre si mesmo e dotar de fluência uma mera exposição do sujeito. Em Distraídos Venceremos, Leminski poetiza as experiências não-intelectivas, tomadas como manifestação do sagrado, como em Arte do Chá: “ele veio/ meio a esmo/ praticamente não disse nada/ e ficou por isso mesmo.” Aí, a distração se apresenta como o caminho para a sabedoria. Será o título Distraídos Venceremos uma resposta ao famoso refrão “é preciso estar atento e forte, / não temos tempo de temer a morte?”

A quem pensa que estou de má-vontade com o poeta, enumero logo os problemas da poesia de Leminski: insistência no banal, uso de rimas pobres, sempre entre palavras da mesma classe gramatical, compreensão superficial da contracultura e uma desmetaforização que visa a facilitar a leitura para o não-iniciado em poesia. Talvez caísse melhor uma coletânea de Leminski com poemas como Coroas para Torquato e Verdura, este último musicado por Caetano Veloso.

Em Coroas para Torquato, belo poema sobre o suicídio de Torquato Neto - autor que, num artigo do Folhetim, elevou a gênio de sua geração -, Leminski revela a si próprio: “pertenço ao número dos que viveram uma época excessiva”. Pois o morto só detentor de virtudes impediu o nosso samurai sulista de referir-se ao mau-humor dos textos que Torquato publicava nos seus últimos dias de vida, numa paupéria contracultural, artigos em que o piauiense negava o cinema brasileiro, negando também a si mesmo, pois fora ator em Nosferatu no Brasil, de Ivan Cardoso. Glauber assim definiu o suicídio de Torquato: “o clímax da babaquice ripista anarcovisionária, subproduto imperialista nos trópicos. Espero que agora, depois da vitória de Nixon, as pessoas aprendam que sem método não se destrói o diabo.” (ROCHA, Glauber, 1997, p.452)

Leminski, que também admirava Cristo, admirou o sacrifício de Torquato, assim como os fãs de música pop admiram a morte dos superdoidões Janis Joplin e Jimmy Hendrix na busca do barato total.

Comentando também o Leminski prosador, gostei do seu livro mais pichado: Agora é que São Elas (1984), publicado numa coleção juvenil que ele chamou de romance sobre sua incapacidade de escrever um romance. Parece-me, no entanto, melhor pedida que o romance anterior, Catatau (1976), que embarca num neojoycianismo em tempo de clareza, e ao que parece, entra na onda de achar que seria melhor se fôssemos colonizados por holandeses, e que Calabar, português que se passou para o lado de Maurício de Nassau, em vez de traidor, é herói, etc. Prefiro estudar nossa civilização luso-tropicalista, mestiça, original. Agora é que São Elas me pareceu um livro despretensioso, leve, engraçado e divertido.





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