Nascí no século 19, em Lyon na França. Minha vida não foi muito fácil não. Formei-me em letras. Publiquei um livretinho de gramática, mas como todos praticamente eram analfabetos, não os vendí. Houve um encalhe fenomenal. Na verdade aquela montoeira toda de papel foi vendida para um ferro velho, que já naquele tempo, reciclava. Para não dizer que não vendia nada, informo que algumas almas caridosas condoeram-se e compraram-no, mas não foi assim nenhuma, como direi, explosão de vendas.
Pareado com o opúsculo, iniciei uma série de aulas de química, física e anatomia na minha residência. Mas o pessoal não estava muito nem ai com o saber. Eu estava realmente desanimado. Não tinha como sobreviver e apesar dos meus sólidos conhecimentos de medicina, filosofia e gramática, estava "pastando" como se diz hoje na gíria.
Não foi por falta de avisos da minha saudosa mãe. Ela dizia que eu deveria conseguir logo um emprego fixo e tratar melhor as pessoas, ser enfim mais sociável, coisa que eu realmente não admitia.
Bem, na verdade... (um minutinho só, por favor. É que eu vou colocar um par de meias. Meu pé está bem frio.) Agora sim... Mas onde estávamos? Ah, é verossímil, eu não gostava mesmo é do "agarro", se é que me endente. Sabe, ter que levantar cedo, picar o cartão, receber ordens de gente analfabeta e estúpida... Era terrível para mim. Por isso quando percebí que havia uma tendência geral para a aceitação de engodos, não contrariei a maré. Muito pelo contrário. Reforcei suas ondas e correntes com livros que diziam respeito aos mortos e como direi... aos espíritos. Bem daqueles dias em diante, meu amigo, pude perceber que criava algo que podemos dizer, não existia concretamente em termos de reificação, de coisificação, entende? Foi o ovo de Colombo e a salvação de minha lavoura.
Mas depois de tudo plantado e enraizado,depois de ter o tempo decorrido, de ter havido a sucessão de governos e ideologias, pude notar que começarama surgir babacas que utilizando os meus conceitos e noções, têm deturpado todo um processo de vir a ser imaterial. Você me entende?
Tem aí um tal de doutor Val. Essa figura é terrível. Afirmam que é o chefe poderoso de uma seita. Informam-me que se trata de uma seita maligna. E que estaria coligada com outra lider que se chama vovó Bim Latem. Será mesmo que isso tudo é verdade?
Afirmam que utilizam os princípio do Associacionismo,aquela doutrina do filósofo inglês John Locke, a Semiótica preconizada por Ferdinand Saussure e os demais conceitos da psicologia esperimental, para... como direi, fazer pressão, lobby, opressão, assédio moral, ou pura e simplesmente, persecução mesmo, daqueles que não se sujeitam às suas determinações.
Mas que determinações pode você, meu respeitável leitor estar perguntando. Bem, sabe aquelas situações de família causadas pelas diferenças, antagonismos, que levam a picuinhas, remoques de vizinhança, querelas política e continhas impagáveis? É isso.
Na verdade esses babacas basbaques desfiguraram todos os princípios, que para lhes ser sincero,hoje neles já não creio mais.
Esses babacas tolos criaram centenas de hospitais psiquiátricos onde, aplicando minhas teorias e teses, segregaram e estigmatizaram milhões de brasileirinhos incautos, ingênuos ou desprotegidos.
Para ser franco se tivesse que fazer novamente aquilo fiz, eu suponho que não o faria. Seu soubesse que hoje aquilo tudo que cismei daria nisso, não teria nem mesmo cogitado em materializar aquelas luminosidades. Era preferível ter passado fome.
Ah, antes que eu me esqueça, é bom avisar que aquele meu Instituto afundou, tal qual o Titanic. Sabe o Titanic?
Mas ... isso já é outra história.
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