Encontrei no fundo da gaveta nove tampinhas de garrafa do tipo pet, a versão inglesa para embalagens descartáveis. Todas continham pelo menos uma história em comum, supriram minha sede ou necessidade de açúcar em algum momento.
Comecei pelas marcas: Água Mineral Ijuí, do Rio Grande do Sul, Tuchaua, guaraná do Amazonas, Dydyo, refrigerante de Rondônia nos sabores de laranja e cola, Convenção, de Caieiras, Estado de São Paulo, Taí, guaraná do grupo Coca-Cola, fabricado no Rio de Janeiro, além de duas tampas de Coca-Cola, uma fabricada em Antônio Carlos, Santa Catarina, e outra de Porto Velho, Rondônia.
Cada tampinha tem também um momento histórico, a passagem por um local do Brasil, aliada ao calor que me estimulou a ingerir o líquido calórico, pouco recomendado para a digestão.
Além disso, há também a própria história da concepção das tampinhas, frutos de um momento em que a sociedade industrial brasileira entra na febre do consumo e produção de bens descartáveis, como embalagens de refrigerantes, margarinas e outros produtos, um tanto perdida ainda em relação ao que pode ser feito com as mesmas, já que os programas de coleta de polímeros ainda não satisfazem a maior parte dos ambientalistas.
As tampinhas têm outras particularidades também, como as cores. Associadas ao sabor, a do guaraná Taí é verde, como a natureza, A água gaúcha tem tampa branca como a natureza pura e intocada, o refrigerante paulista mistura vermelho e branco para descontrair. O refrigerante Dydyo coloriu as tampinhas dos sabores com as cores adequadas, sendo laranja a própria, uva, roxo, e limão verde. Curiosamente o de guaraná ficou branco com a logomarca apenas. As de Coca-Cola utilizam o vermelho para estimular os sentidos dos consumidores.
Embora a maior parte dos consumidores não tenha muita consciência do que é feito no acabamento dos produtos, normalmente há uma função pedagógica nas embalagens, que englobam todos os detalhes, inclusive a tampinha.
Faz parte do conceito de hegemonia que ajuda a manter uma marca no mercado por muitos anos, como é o caso da centenária bebida norte-americana, que espalhada por todos os países, ajuda a sustentar a economia ianque.
As tampinhas contém signos, expressam o grau de industrialização, tecnologia e capacidade dos indivíduos, além da competência naturalmente.
Algumas delas acabam inclusive se incorporando ao dia-a-dia dos cidadãos, tornando-se objetos biocêntricos, na medida em que parecem oferecer soluções para problemas simples, como o armazenamento de líquidos, substituindo as velhas embalagens de vidro , perigosas no manuseio e sujeitas a acidentes.
O curioso é que objetos como embalagens pet assumem os papéis mais diversos, compondo também o cosmocentrismo das paisagens poluídas de rios e igarapés, além dos terrenos baldios, pois a natureza não está preparada para absorver em curto tempo o polímero que suplanta a capacidade das bactérias degenerativas de materiais.
A semiótica das tampinhas vai mais longe, pois a imaginação não tem limites. Jogos, objetos decorativos, tudo pode ser feito com elas, além é claro, de recicla-las, evitando que a natureza padeça por falta de um estudo mais acurado.
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