DESPEDIDA NO CAIS
Nossa, isso é do tempo do onça... Quando se viajava de navio, não para fazer um Cruzeiro, era o meio de transporte. Demorava uns treze dias para se chegar a Lisboa, e assim mesmo parando na Ilha da Madeira. Depois que as passagens aéreas ficaram acessíveis e a pressa se instalou, tudo mudou.
Todo mundo ia acompanhar o viajante. A família se apertava no carro que ziguezagueava pelas curvas da estrada de Santos cheia de neblina. Foi assim quando mamãe embarcou para uma temporada na Alemanha. Não sabíamos muito bem como seriam aqueles meses sem ela, mas estávamos agitados com a novidade. Só papai parecia nervoso. ‘Ele’ sabia o que o esperava! Fora o caçula que ficaria com nossa tia, teria que dar conta de quatro adolescentes em casa...
Quando chegamos ao cais, que balbúrdia! Gente a mais não poder, malas, canastras, guindastes... mal dava pra passar. Lá em cima na mureta encostadas pessoas acenavam, gritavam, gesticulavam... Grupos cá embaixo faziam o mesmo. E quem subia a escada dava dois passos e olhava para trás.
O navio começou a apitar, última hora de embarcar.
Beatriz Cruz
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