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Cartas-->Para Daniel Fiúza Pequeno -- 23/04/2002 - 03:33 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prezado Daniel Fiúza

Fico muito lisonjeado em saber que você lê meus humildes rabiscos. Escrevo-os com amor, com dedicação, com carinho como quem prepara um presente para um amigo. Gosto de pensar muito antes de escrever e, muitas vezes, prefiro não escrever, a escrever coisas tolas para agradar a um ou a outro, ou, simplesmente, agredir e diminuir o meu semelhante. Acho que o ato de escrever é um ato sagrado, é uma bênção dos deuses, é um privilégio, é uma iluminação. Por isso que, quando decido colocar letras e palavras juntas, tento desenhar idéias que elevem e enlevem a quem mais respeito: meu possível leitor. Preparo-me como numa cerimônia para escrever uma simples nota. Fico intrigado com pessoas que usam da palavra somente para ironizar gratuitamente ou humilhar os que, por uma via ou por outra, vão deparar com os seus escritos. A ironia e a humilhação têm seu lugar certo, têm sua hora certa, assim como qualquer coisa desta vida. Um beijo gratuito, não é um beijo. Um carinho sem sentimento, não afaga. Um sexo sem desejo, não tem prazer. Uma bofetada na hora exata tem o seu efeito definido. Sou humano: amo, sofro, odeio, desprezo, me arrependo, penso e tenho todos os sentimentos que uma pessoa viva tem. Brinco também. Adoro brincar! Tenho a sensibilidade à flor da pele. Perco também meu controle - não sou um robô. Mas uma coisa aprendi: a educar as minhas reações sentimentais. Foi um processo penoso e difícil, pois, nordestino como você, com sangue latino, ainda mais misturado com negro, índio e árabe, consigo ler rapidamente nas entrelinhas, nos olhares, nos simples gestos e na areia dos desertos metafóricos. Além disso tudo, tive a fortuna de conviver boa parte da minha vida com anglo-saxões com quem aprendi a frieza dos atos e das respostas. Falo quando me é conveniente e com o objetivo certeiro. Muitas vezes, no meu silêncio, digo tudo em forma inversa. Assim sou.

A carta que escrevi para minha adorável amiga desavisada, a qual por sinal nem freqüenta esta nossa moenda de letras, foi um diálogo muito positivo e produtivo. Tentei dividir com ela a idéia da universalidade do ato de escrever. Meu universo é bem maior do que a Usina de Letras, é muito mais abrangente do que as infovias da internet, é muito mais rico do que um punhado dos que se aproximam como amigos e amores - é imenso! Ultrapassa as fronteiras da Bahia, do Brasil, das Américas. Meu universo também não é somente agora. Procuro elastecê-lo não só no espaço como também no tempo. Meu universo é a mente humana. O que escrevo hoje quero que faça sentido daqui a meio século ou mais. Tenho textos postados aqui que os escrevi há mais de três décadas e trazem o sentido e a idéia de hoje e, garanto que, se lidos daqui a cem anos em qualquer parte do mundo e em qualquer língua terá o mesmo sentido. A chuva será sempre a chuva. A saudade sempre vai picar os corações. A desilusão vai sempre acontecer sem avisos. O beijo roubado no escuro vai ter sempre o sabor de fruta doce. A surpresa não usa calendário e o Amor terá sempre um lugarzinho nos corações dos Homens [feministas, me perdoem: entenda-se aqui espécie humana - homens e mulheres!].

Fico feliz em saber que você conseguiu tirar alguma lição das minhas palavras e que esse processo o empuxou para um estágio mais elevado. Acho que aí é que está a alma de qualquer arte: elevar quem a desfruta. Pincelar uma tela sem objetivo, não é arte. Esculpir em pedra, ferro ou fogo sem transmitir uma forma não tem sentido. Fazer barulho, não é música. Assim é com a arte de escrever: escrever simplesmente por escrever é um ato efêmero. Não me deixo ser tragado pela sociedade de consumo enquanto tudo é imediato e descartável. Acho que a realização do artista é quando ele cria coisas sublimes e eternas.

Peço-lhe que aceite um grande abraço poético.

F.

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