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Contos-->O estranho caminho do sucesso -- 16/02/2002 - 00:25 (Gomes Lug) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já muito pequeno Alberto demonstrara aptidão para moda. Enquanto sua irmã, acompanhada das amigas, entertiam-se a brincar de bonecas, o pequeno Alberto especulava a forma dessas, e punha-se a desenhar alguma roupa para vestir as pequeninas que serviam de brinquedo à irmã. Com que alegria Adelaide revestia suas bonecas com as novas peças que seu irmão, terminado o desenho, confeccionava. Eram belíssimos vestidos, blusas, saias e toda sorte de vestes femininas; sempre as da moda.
Enquanto seus colegas tocavam algum carrinho, Alberto desenhava, recortava tecidos, costurava ao lado da avó e da mãe, arriscando até mesmo algum bordado; sempre com grande êxito, pois tamanha era a concentração que despendia no ato, que nada o fazia parar enquanto não houvesse acabado, com perfeição, o serviço que começara.
Seu pai desgostava de tais atividades; acusava esposa e mãe de atentarem contra a virilidade de seu filho; pois onde já se viu, dizia, aquela não era atividade para menino. Assim, por diversas vezes, Jairo intentou proibir o filho de meter-se em costura. Dava-lhe brinquedos de rapaz, carrinhos, autoramas, bonecos guerreiros. Mas o garoto, cabisbaixo, recebia aqueles brinquedos e os utilizava sem empolgação alguma, certo que estava de sua vocação.
Quando ausentava-se o pai, Alberto podia exercer livremente a atividade que o satisfazia de fato; encoberto pela mãe e avó. Assim, a medida que crescia, suas confecções fizeram-se mais complexas e em maior número. Passou das bonecas para a irmã, mãe e avó. Produzia-lhes a peça que pedissem, em velocidade espantosa; já com certa experiência, fazia milagres frente a maquina de costura. Com que habilidade tirava as medidas da modelo, recortava o tecido, passava-o na máquina, arranjava-lhe os acabamentos. Em pouco tempo, tinha-se uma saia, um vestido, uma blusa.
Sua fama espalhou-se pela vizinhança. Quando finou seu Jairo, passou a costurar para fora, e não se diga que para complementar a renda, pois unicamente de sua atividade é que mantinha-se a casa. Fazia-se filas, juntavam-se mulheres aos montes em sua porta para encomendar alguma peça, e a maioria delas eram desenho do próprio Alberto. A muito custo que dava conta de todas as encomendas.
Entretanto, contrariando o que era natural que sucedesse, desmentindo a triste expectativa que o falecido Jairo mantinha sobre a personalidade de seu filho, Alberto mostrava-se homem em todos os sentidos da palavra; falava grosso, namorava belas moças, e jamais mostrara delicadeza alguma no falar e no portar-se. Era um rapaz normal; embora exercesse atividade incomum ao meio.
Suas namoradas, tendo descoberto sua atividade cosedora, estranhavam um pouco; mas não tardava para que se acostumassem ao fato, chegando mesmo a adorar o ofício do moço, que as presenteava com belíssimas vestes. Bastava que alguma insinuasse interesse por certa peça, que Alberto punha-se a trabalhar nela, para, no dia seguinte, ver o rosto de suas namoradas iluminar-se de satisfação.
Chegado o momento de optar por alguma faculdade, Alberto não teve dúvidas e inscreveu-se no vestibular para moda; no teste de aptidão ganhou nota máxima. Seus colegas de curso eram mulheres em grande maioria, mas havia, além dele, também alguns homens na sala, sendo que a maioria deles recusaria, merecidamente, tal classificação, dado o trejeito com que se portavam. Alberto tinha verdadeira aversão àquele ambiente alegre, extravagante e colorido do mundo da moda. Detestava os trejeitos dos colegas e dos estilistas já em exercício da profissão. Tinha para si que aquela era profissão como outra qualquer; séria; que tais afetações apenas contribuíam para desmoralização do ofício. Por isso, durante a faculdade, não fez amigos, mas namorou quase todas as colegas bonitas da sala, e acabou por casar-se com uma delas, com qual, após a formatura, abriu uma butique de roupas.
Bom dinheiro rendia a butique; prosperou, abriu filiais. Mas Alberto buscava mais; e como qualquer profissional, independente da área, ambicionava ser o melhor naquilo que fazia. Tal coisa, em sua profissão, implicava no estrelato, em ter o nome impresso em revistas e jornais; estar entre os estilistas da alta costura do mundo fashion.
Para tal, inscrevia suas coleções em desfiles. Arrumava modelos, trabalhava com toda energia em cada peça, para que saíssem impecáveis na passarela. Suas peças eram por demais elogiadas; sua butique aumentou as vendas; mas sua figura, ele, Alberto, permanecia anônimo no mundo da moda. Após os desfiles, os flashes das máquinas e as câmeras voltavam-se todas àqueles estilistas irreverentes, afetados, polêmicos. Para ele sobravam apenas alguns apertos de mão, congratulações, batidas nas costas.
Certa noite, após o retorno de mais um desfile, Alberto pôs-se a cogitar seu insucesso. Questionou a esposa; e ambos meditaram tempo sobre o assunto. O que poderia haver de errado em suas produções? Nada, certamente. Tanto que se os azes das passarelas eram seus colegas afetados, o az das vendas era ele. As peças produzidas por Alberto eram de fino gosto, e possibilitavam seu uso no dia a dia, ao contrário das extravagâncias produzidas por seus colegas de profissão. Jamais uma mulher era vista usando as esquisitices fruto dos coloridos cérebros daqueles dóceis estilistas que tanto abominava. Entretanto, era comum que saísse a rua e visse produções suas no corpo de belas mulheres, coisa que o enchia de orgulho.
Passaram-se algumas semanas até que Alberto chegasse a brilhante conclusão sobre o motivo de seu anonimato, e logo que o descobriu, comunicou a esposa. Era, disse à mulher, normal demais, pacato demais, não gerava polêmica alguma, não falava mal de ninguém; por esse motivo a imprensa não o procurava. Concluiu que era preciso mudar radicalmente para atrair para si a atenção da mídia; era preciso dar-lhe o que ela pedia.
A esposa concordou com seus argumentos; mas o que fazer, dizia ela; que atitude tomar? Alberto concluiu que a primeira coisa a fazer era proceder com o divórcio. Explicou a esposa que tal fazia-se necessário, pois o perfil que planejava para si a partir de então não coadunaria com tal união. Explicou que a separação seria apenas fachada; que ambos permaneceriam juntos, embora em casas separadas; ela concordou.
Assim, no próximo desfile, já divorciado, grande surpresa teve o público ao presenciar um novo Alberto recebendo as honras do desfile. Albert, nome que decidira adotar a partir de então, trazia os cabelos tingidos de um louro quase branco e vestia extravagantes roupas coloridas. Sorria, acenava para o público com o pulso um tanto amolecido; era, de fato, uma figura típica do mundo fashion, coisa que as câmeras e máquinas fotográficas logo reconheceram, e, naquela noite, Albert fora o estilista mais requisitado para fotos e entrevistas. Falara às câmeras com o ar de afetação que tanto treinara dias antes para adquirir; gerara polêmicas, criticando os demais estilistas; alfinetando um e outro. Em pouco tempo tornou-se o nome mais popular do meio fashion local; e logo ganhou projeção nacional, não tardando que recebesse convite para apresentar seus desfiles na capital mundial da moda, Paris. Diversas revistas e jornais traziam matérias sobre Albert; também fora convidado a participar de populares programas de televisão; enfim, trotava a passos largos o caminho do sucesso.
Logo seu nome tornou-se símbolo da alta costura. E após cada desfile, seguia disfarçado ao encontro da ex-esposa, e juntos brindavam e riam-se muito de toda aquela armação.

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