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Contos-->VENENO -- 16/02/2002 - 13:58 (Wagner Mangueira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VENENO é composto de nove rápidos relatos. Em sua primeira encarnação o fulano morre picado pela cobra. Nas sete reencarnações (ora fulano, ora fulana) tem de se livrar dos venenos: avareza, inveja, ira, preguiça, orgulho, luxúria e gula.

A COBRA
Em busca da verdade, Ele passeava pelo campo da aldeia como fazia todas as tardes.
Ele vivia buscando a verdade.
O campo era vasto: macieira e outras árvores frutíferas. Flores. Folhas. Raízes. Sementes.
Havia ainda um rio.
Ele morava com uma cama e um fogão de lenha.
Muitas pessoas moravam na aldeia: mulheres e homens se banhavam e lavavam roupas no rio, plantavam e colhiam, preparavam alimentos, caçavam e pescavam.
Ele passeava pelo campo da aldeia, como fazia todas as tardes, quando foi picado por uma cobra. Três horas depois estava morto.

"DIAS IGUAIS
AVAREZA DE DEUS"
CHICO BUARQUE
Ele economizava em tudo. Tudo mesmo: pensamento e sentimento inclusive.
Ele quase não respirava. Simples: economizava vida. Não se expor, não falar, não produzir nem gastar adrenalina.
Aos 23 anos, Ele morreu. De solidão.

ALMA BRUTAL
Ela era linda e loira, mas invejava a delicadeza de alma que poucas pessoas possuem.
Nas noites de verão: mesinha na calçada, chopinho gelado e amiguinhos.
Cinemas, teatros, galerias de arte: no outono.
Abastecida de comida, amor e cultura; na vida dela nada faltava, exceto... Exceto a alma cobiçando a delicadeza alheia.
No inverno começou a sentir dores. A brutalidade da alma provocou uma série de danos físicos... E carência afetiva, desilusão, impaciência.
Resistiu até completar 50 anos. Antes dos 51, durante a primavera, um tiro no ouvido esquerdo. Suicídio.

QUEBRA-QUEBRA
Criança, Ela destruía todas as bonecas, todos os brinquedos. Rasgava as roupinhas.
Na adolescência, batia nos namorados.
Em todo lugar que Ela ia, arrumava um jeitinho de discutir, berrar, brigar.
Um dia conheceu a sua versão masculina: um homem de pavio curto.
Até hoje não se sabe o motivo, cinco dias após conhecê-la, o homem a asfixiou.

SONECA
O apelido dela era Soneca porque dormia no cinema, na aula, no trânsito e na cama.
Embora nascida pobre, nunca lavou uma colher. Aos 12 anos Ela ignorava a insistência da mãe. Afazeres domésticos? Nem pensar.
Ela nunca viajou, trabalho danado preparar a bagagem. Sentia preguiça até para namorar.
Preguiça mental, preguiça física.
Aos 17 anos, deitada no sofá da sala, encontrou a morte.

BATATAS
Ele era orgulhoso que só vendo. Sempre conseguia as melhores notas, colocações. Na cabeça: disputa e liderança.
Narizinho empinado.
A vantagem do queixo sem espinhas, adolescente namorou as garotas mais bonitas. Durante toda a juventude a vida lhe ofereceu fases doces, leves.
Antes dos 30, já conhecia metade do mundo. Os filhos vieram bonitos, inteligentes e saudáveis. Sucesso absoluto na vida profissional, pessoal, afetiva...
Aos 89 anos, à beira da morte natural, Ele foi tomado por uma estranha lucidez: "Sou um vencedor!", pensou, "E ganhei o quê?"
Batatas.

CALCINHAS COMESTÍVEIS
Nasceu rechonchuda e risonha.
Doce menina: companheira, participante, solidária, angelical. Características que jamais a abandonaram.
Na juventude, rejeitou todos os pretendentes.
Manteve-se intacta a vida inteira. Ela continuava tão boazinha... só vendo. Tudo, tudo o que lhe pediam Ela fazia sorrindo.
Jamais brigou, jamais discutiu com alguém.
Paz, paz, paz.
Faleceu velhinha e ignorando os prazeres carnais.

RUAS CRUAS
Ele comia informação.
Nas ruas cruas ele se alimentava de ar. Com sorte, ganhava também uma brisa, aragem. Se alimentava de ver mãos, roupas, árvores.
Mãos nuas Ele sempre via nas ruas cruas.
Um dia Ele viu uma mão audaciosa. Viveram felizes por três anos e meio.
Findo o prazo, a mão o desprezou. Para se consolar, Ele descobriu a Internet: curto-circuito mental, overdose de informações. Indigestão.
Ele comia e vomitava informação sem digeri-la. Foi perdendo tudo: trabalho, móveis, casa, amigos. Viveu mendigo durante anos. E acabou.

EPÍLOGO
Agora, última reencarnação, é pura vida que escorre em mim e não posso falar. Só posso viver.
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