POR QUÊ?
Sergio Tasso Vásquez de Aquino (*)
São 20.30 da quarta-feira, 20 de abril de 2005, e o noticiário da televisão acaba de anunciar o aumento de 15% concedido aos funcionários da Câmara Federal, retroativo a janeiro deste ano e que será estendido aos funcionários do Senado. Informou, também, que a remuneração média dos empregados nas Duas Casas passará a R$ 10.000,00 mensais e que a verba de gabinete dos deputados, há pouco inchada de R$ 35.000,00 para R$ 44.000,00, passará a R$ 55.800,00 mensais!
Remuneração média de R$ 10.000,00, atente-se bem, que engloba assessores parlamentares, mas também motoristas, secretárias, copeiros, ascensoristas, seguranças, faxineiros...Há pouco dias, soube-se que o motorista do Senador Lobão recebe R$ 17.000,00 mensais! A cada parlamentar federal toca, entre salários diretos e indiretos e benesses várias, a assustadora quantia de cerca de R$ 100.000,00 mensais! É fácil perceber que os níveis salariais no Congresso atingem a faixa da insensatez e da agressão, de tal forma superiores, muitíssimas vezes, aos pagos em outros setores oficiais e pela própria iniciativa privada no nosso pobre e explorado País! Qual a razão, qual a explicação lógica para tamanho despautério? Trata-se de verdadeiro escárnio ao povo sofrido, que amarga a miséria, e um autêntico deboche contra a ética, a moral e a justiça! Os recursos comuns dos brasileiros, o produto do seu sacrifício, do seu trabalho, dos impostos dura e sentidamente pagos estão sendo dilapidados, escorrendo pelo ralo da insensibilidade, da arrogância, do desprezo, da certeza da impunidade! O patrimônio comum dos brasileiros está entregue ao butim dos espertos e dos que se crêem deuses, porque legislam, sem limites e sem controle, em causa própria! Até quando?
No outro extremo, os servidores públicos federais, aos quais recentemente foi concedido reajuste de 0,10% depois de anos de espera, por alegada falta de recursos no Erário. E os militares, imersos em grandes dificuldades de vida e aos quais o governo, pela palavra de seu representante categorizado, empenhara promessa de reajuste de 23%, que elevaria a remuneração do Oficial-General de 4 estrelas, com 45 anos de serviço, a pouco mais da média paga aos privilegiados funcionários do Congresso, mas que está sob sério risco, já que sujeito “a estudos para verificação da existência de recursos”.
Por que tamanha disparidade de tratamento? Por que tudo para alguns, que nem são os melhores, e nada ou migalhas para os outros? Por que não reage a nação, indignada, a tão grandes e repetidos, já que vêm configurando hábito, moda, costume, ataques ao bom senso e ao bem comum? Chega! O bem e a justiça têm de prevalecer! O a que estamos assistindo, e vivenciando, não é democracia, mas sim oligarquia nepótica, plutocrática, demagógica e tirânica em ação, sem receio e sem pudor de mostrar sua cara horrível à luz do dia e zombando dos sofrimentos e privações de toda a nação! Alto e bom som, levanto-me e grito: “Estou contra toda essa infâmia!”
Os brasileiros não podemos continuar apenas assistindo, e coonestando com nossa passividade, a tantos erros praticados contra tudo o que é justo e certo. Onde estão nosso brio e nosso valor? Há que se impor limites, dentro da lei, à farra feita com os dinheiros públicos! Para isso, volto a propor , como o fiz, na primeira reunião dos Três Poderes para tratar de isonomia de remuneração no serviço público, em 23 de abril de 1992, que ninguém pago pelo Estado perceba mais que os Oficiais- Generais de quatro estrelas. Pela simples e meridiana razão de que temos vergonha e nunca nos locupletamos dos cofres públicos, mesmo no período dos chamados “governos militares”! Terei apoio na luta pelo que é certo? Tem o povo consciência de sua força, de que é ele que concede poder , com seu voto, àqueles que tão irresponsávelmente estão debochando de todos nós? Não temem, os algozes da Nação, já que desprovidos de remorso e consciência, a justiça de Deus? Vamos declarar-lhes nosso repúdio e o asco que nos causam suas ações ignominiosas, e exercer permanente vigilância sobre seus passos, cobrando-lhes bom comportamento, com a pressão da cidadania e a ira dos justos!
Estamos desesperadamente necessitados de pessoas de bem, dotadas de espírito de justiça, de sabedoria, de humildade, de caridade para com o semelhante, de sentimento de dever e de doação de talentos nos cargos públicos, nos três poderes, nas esferas federal, estadual e municipal, para resgatar o Brasil do seu martírio e impedir a tragédia que se prenuncia, se tudo continuar como vem sendo. Que o Senhor Deus escute a nossa prece e venha em socorro da sua Terra de Santa Cruz!
Rio de Janeiro, RJ, 20 de abril de 2005.
(*) Vice-Almirante(RM1)
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