Sempre é bom lembrar de um bom texto para se construir outro, embora haja similaridade de conceitos que possam levar o leitor a pensar na tentativa do segundo escritor a estar bajulando o primeiro ou cita-lo apenas para espargir um pouco de intelectualidade sobre suas letras.
Quero citar não em sua plenitude um texto em que o jornalista Edson Lustosa explorava a natureza do probo e do ímprobo, seres estes que têm entre suas características a antítese como marca preponderante.
Já dizia Lustosa que o probo, em função de sua retidão, era incapaz de arquitetar pensamentos e atitudes que pudessem trazer prejuízo a outrem, ainda que em situações bastante adversas.
O ímprobo, ser incapaz de viver sem ver no próximo uma oportunidade de investimento, procura, por que é de sua natureza predadora, estimular o semelhante a ter um comportamento adequado aos seus propósitos, e, quando conveniente lhe parece, arma o bote e ataca, tal qual um réptil sibilino se arremessa em direção a sua presa.
Ora, mas como condenar o ímprobo por sua atitude se é próprio de sua natureza? Afinal não dizem os criacionistas que os anjos caídos nunca tiveram realmente a harmonia com o Todo Poderoso? Então por que se surpreender com o bote da serpente diante do ninho descuidado de uma genitora ausente? Não há surpresa, simplesmente o fato acontece por ser esperado, cronometricamente possível, dentro das possibilidades matemáticas plausíveis e imutáveis da natureza ontológica do ímprobo, ser corruptível e corrupto em todas as instâncias.
O probo, palavra que estimula rimar bobo, também alternando com honesto, não tem a capacidade de se tornar ímprobo, por recusar o convite fácil, a possibilidade de estar bem consigo, ainda que esta mudança de posição possa trazer conforto, alento, tranqüilidade aparente.
Tornando-se irredutível em sua natureza não violável o probo jaz em plena harmonia entrópica, observando a reação exotérmica produzida pelo liberar explosivo da existência maligna do ímprobo, que em seus movimentos vitais causa a incandescência das virtudes e a corroboração das existências, normalmente em troca dos paliativos e assentamentos duvidosos sobre dunas do deserto existencial, fugindo da consciência plena que rege os destinos dos simples mortais.
A divagação do Edson levou-me a questionar quem seriam os ímprobos em os probos no ano de 1998, mas como eram coisas do velho século, deixei de perguntar-lhe o que seria todo o texto. Achei oportuno lembrar alguns de seus conceitos por estes dias. Afinal nada muda por aqui, planeta onde esperança é melhor do que ação.
O texto do Edson ultrapassa as datas, sendo adequado por todos os tempos.
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