É por demais conhecida a expressão popular: “ Paciência de Jó”. Ela significa uma pessoa de paciência extrema e que nada reclama das aflições que passa vida a fora.
Eu, que adoro uma contramão, resolvi bisbilhotar a história desse homem surpreendente e verificar como ele conseguiu manter essa postura com tanta desgraça que infligiu sua vida.
Em suma, Jó foi um homem que possuía imensa riqueza dentro dos padrões da época. Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentos jumentos, numeroso pessoal para trabalhar para ele, o que lhe conferia a fama de um dos homens mais ricos do Oriente.
Sua família era bem unida, seus sete filhos e três filhas mantinham uma relação harmoniosa de amizade, visitavam-se entre si, e Jó, orava a Deus em períodos estabelecidos pedindo, antecipadamente, perdão caso algum deles pudesse ter pecado contra Deus em seu coração. E assim sendo, prosperava dia após dia.
Um dia, Satanás, conversando com Deus, ouviu de Deus a observação a respeito da vida irrepreensível de Jó. Satanás retrucou dizendo que era muito fácil servir a Ele na fartura. E Deus permitiu que Satã tirasse tudo de Jó, menos a vida. E assim foi feito, vindo Jó a perder família, bens e servos, tudo em um só dia. Sofreu a dor da perda, mas não se desesperou nem culpou Deus.
Novamente, após o ocorrido, Satanás encontra-se com Deus e diz que veio “de rodear a Terra e passear por ela”. E Deus lhe fala sobre a atitude correta de Jó. Ao que o Diabo retruca:- “Atenta sobre sua carne e seus ossos e verás se não blasfema!”. (Jó 2:5).
Novamente Deus permite, impedindo apenas que Jó viesse a morrer. E assim foi feito, vindo Jó a ser coberto de tumores da planta dos pés até o alto da cabeça. Embora sua mulher e seus amigos o incitassem contra Deus ele não blasfemou. Durante sete dias e sete noites foi acompanhado por seus amigos,os quais permaneceram em silêncio, visto que sua dor era imensa.
Depois disso, Jó começou a lamentar. Amaldiçoou o dia em que nasceu, e lamentou não ter morrido antes de nascer. Segundo a Bíblia (Jó 3:25-26) ele afirma: “O que eu mais temia me aconteceu, e o que mais me apavorava me atingiu.” “Vivo sem paz, sem tranqüilidade e sem descanso, em contínuo sobressalto”.
Diante da dor, reclama ao seu amigo Elifaz:
a) Pede a Deus que o livre através da morte.
b) Lamenta o afastamento dos falsos amigos
c) Pergunta-se:- Onde foi que errei?
d) Reclama falta de respostas
e) Reclama a morosidade do passar do tempo
f) Revolta-se dizendo que não se calará
g) Insiste em saber qual foi o seu pecado e o porquê de não ser perdoado.
Diante da dor, com seu amigo Baldad:
a) Reclama que não sente Deus perto dele
b) Desconfia da vontade de Deus perguntando: quem faz isso?
c) Desafia Deus a ser um homem como ele e discutir o mérito do seu sofrimento
d) Reitera seu medo e culpa Deus por esse medo
e) Torna-se sarcástico, ao perguntar se acaso Deus se diverte com isso.
f) Pede para morrer
Diante da dor com o amigo Sofar:
a) Reclama que conselhos nada valem, pois ela sabe tudo que todos dizem
b) Em Jó 13:3 ele diz “Eu quero acusar o Todo Poderoso, desejo discutir com Deus”.
c) No versículo 13 afirma que vai falar aconteça o que acontecer, que vai arriscar perder a vida, mas quer discutir com Deus.
d) Tenta fazer uma troca com Deus: Ele se repararia dos erros porventura cometidos em troca de Deus recolher Sua fúria e acabar com o medo dele.
Daí por diante é uma história coberta de reclamações muito embora os amigos tentem fazê-lo compreender que Deus é bom, apesar de seu sofrimento.Embora bem intencionados, acabam por tomar as dores de Jó e por vezes também concordarem com sua raiva e aflição.
Jó continuará reclamando até o capítulo 38 quando Deus conversa com ele e o repreende.Por ainda não compreender, ele declara que nada mais falará. Deus continua Sua repreensão e, em Jó 40:4 ele reitera que silenciará. Deus continua admoestando-o até que ele finalmente entrega os pontos e diz:- “Sei que nenhum de Teus projetos fica sem realização” ( Jó 42:2) e completa pedindo perdão, falando que finalmente entendia a vontade do Pai, reconhecendo que SABIA de Deus, mas não o CONHECIA, e se arrepende.
Deus repreende os amigos sobre a insensatez de vários conselhos dados. Jó intercede pelos amigos e Deus não apenas devolve como duplica suas posses. Só então os antigos amigos, irmãos e irmãs foram visitá-lo como o presentearam. E ele voltou a se tornar rico e a possuir catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois, e mil jumentas. Nasceram outras três filhas e sete filhos. Viveu ainda cento e quarenta anos e então morreu.
Olhando cá do meu cantinho, não vejo mais que a história de um homem comum, reagindo diante das dores da mesma forma que qualquer ser humano reagiria. Não manteve uma postura inabalável nem ficou dizendo que Deus era maravilhoso o tempo inteiro enquanto seu sofrimento persistiu. Sentiu a injustiça sobre si enquanto os injustos estavam bem, sofreu por suas amizades desaparecerem assim que ficou na miséria, ouviu conselhos bons e maus dos poucos amigos que restaram, enfim, viveu como eu vivo e qualquer pessoa vive.
Qual seria a diferença da história de Jó? Porque ela entra no contexto da Bíblia se aparentemente nada fala além de coisas comuns no dia a dia de uma pessoa?
Aí é que entro com minhas observações. Vejo o desenrolar do processo natural do comportamento humano diante de uma situação de desespero total. A saber:
Medo,
Questionamento
Revolta,
Desconfiança,
Desafio sarcástico,
Lamentação,
Reação,
Deixar de escutar conselhos menores,
tentativa de arriscar-se,
Tentativa de aliança à base de troca,
Silêncio ao perceber a inutilidade de falar (desistência).
Entendo que a desistência seja um processo necessário para calar a voz interior e disponibilizar a mente a processar novas informações.
Destaco algumas lições que depreendo dessa história :
No início, a CAUSA do sofrimento de Jó : O MEDO interiormente guardado, da perda do que possuía (tanto que antecipadamente pedia perdão, ou seja, antes do castigo acabe-se com ele! E em uma segunda pista mostra: Aquilo que eu temia me aconteceu!
O miolo, é a CONSEQUÊNCIA de toda a tragédia trazida à tona depois de fermentar no caldeirão do MEDO, e contada em todos os detalhes para que não se esqueça a lição do acontecido.
No fim, a SOLUÇÃO do sofrimento: A CONSCIÊNCIA DO MEDO, e conseqüente reabilitação do leme que dirige sua existência.
O que acho também importante enfatizar é a afirmativa final: SEI QUE NENHUM DE SEUS PROJETOS FICA SEM REALIZAÇÃO.
Para mim essa é uma afirmação de maior importância pois, sem termos consciência de que os caminhos de Deus são determinados, jamais poderemos encontrar a virtude da FÉ e CONFIANÇA nos destinos traçados pelo Pai Eterno . Esses destinos têm de ser reconhecidos como LEIS NATURAIS E IMUTÁVEIS, tais como os princípios inquestionáveis das ciências que demonstram o funcionamento da física, química, matemática e todas aquelas conhecidas como ciências exatas. Se nos damos ao luxo de denominá-las exatas, quanto mais deveremos reconhecer a exatidão de um Pai amoroso Onisciente, Onipresente, Onipotente e Perfeito.
Analisando a atitude dos amigos e parentes que voltam quando Jó recupera seu patrimônio, teremos a constatação de que desde que o mundo existe, o comportamento das pessoas, em geral, é esse mesmo. Afastam-se na escassez e voltam na abundância. Se entendido o fato, nada podemos lamentar das pessoas que escolhemos para nos rodear.
Nada mais no mundo fazemos, do que reconhecer a cada dia que passa que a Bíblia se torna um livro de referência em qualidade de vida.Que todas as “novas” concepções acerca da psicologia comportamental, estão fielmente já inseridas nela. Basta olhar, sem preconceito piegas de religiosidade sem critério, que veremos a grandeza e magnitude dos que puseram no papel a sabedoria universal de maneira coerente e profundamente real.
Portanto, a grande lição da história de Jó, para mim, não é a tão propalada paciência, pois nem foi tão grande assim. Mas A ATITUDE DE HUMILDADE em aprender com a crise pela qual passou, reconhecendo que o maior inimigo da prosperidade é O MEDO, A FALTA DE OUSADIA (ousadia responsável) que interpreto como desconfiança em Deus. E sem Ele nada prospera.
“BUSCAI AO SENHOR ENQUANTO SE PODE ACHAR. INVOCAI-O ENQUANTO ESTÁ PERTO”