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Cronicas-->Percepção -- 12/04/2000 - 14:22 (Luiz Cláudio Gandim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Numa manhã ensolarada, algo me fez parar e apreciar aquela senhora em um dos bancos da praça das figueiras. Ao seu lado, sacos e sacolas lhe faziam companhia. Em seu interior guardava o que de mais precioso sobrara de sua vida. Lembranças de sua caminhada pela terra.

Imagino o que haverá dentro daqueles sacos: muitas fotografias de seu casamento; o batizado de seu primeiro filho; de quando era jovem e sonhava com seu príncipe encantado; seus parentes. Vestidos de baile; cartas e bilhetes de amores correspondidos; papéizinhos de presentes. Eram pedras preciosas que trazia consigo.

Estava ali descansando do peso que carregava. Seu fardo muitas vezes fora pesado demais. Aquela sombra fresca amenizava por hora seu cansaço físico. Suas rugas e seus cabelos brancos pelo tempo, mostravam o quanto tinha lutado para chegar até ali.

Com certeza jamais teria se perguntado se valera a pena passar por tudo que tinha passado. Certamente tinha feito o melhor para si e para os seus. Era uma pessoa que deveria acreditar em Deus, no sagrado coração de Jesus e na Nossa Senhora Aparecida. Talvez se chamasse Maria Aparecida, ou Maria da Glória, de Fátima ou simplesmente Maria.

Pouco importa como se chamava aquela mulher que ali descansava dos afazeres diários. Percebi em seu semblante uma paz de missão cumprida, de quem amara por demais seus filhos, que vivera só para eles.

Seu jeito humilde mostrava a ternura que pairava em seu lar; quem sabe muitas vezes lhe faltava o pão em sua mesa, mas com certeza a paz, o amor e a esperança eram abundantes naquela casa.

Naquela manhã quente a sombra das árvores era seu oásis. Em pleno dia de trabalho, homens e mulheres trafegavam por ali sem perceber aquela Senhora naquele banco. Seus afazeres os deixavam com pressa para ganhar o pão de cada dia.

Para muitos que passaram por ali e avistaram de relance aquela mulher com aqueles sacos ao seu lado, pensavam tratar-se de mais uma mendiga ali sentada. Outros se perguntavam o motivo dela estar ali, ou o quê levaria um filho a abandonar sua mãe naquele estado no final de sua vida nesta terra? Alguns se revoltaram contra os governantes que não tinham uma política digna para tratar os menos favorecidos. Outros ainda achavam que era culpa do destino daquela mulher, estar ali naquele banco mendigando restos de comida de alguns, sapatos e roupas usadas de outros.

Por certo teve gente que passou ali e se sentiu culpado por não poder fazer nada para mudar a situação dos milhares de idosos, mendigos e crianças que vivem jogados nas ruas das cidades, como cachorros sem dono. Uns ainda ficaram analisando como andava a humanidade desligada do amor ao próximo, onde era cada um por si e Deus por todos.

Quem sabe não passara alguém ali que estava cansado da luta diária, desempregado, abandonado pela mulher e filhos, com uma doença grave e com vontade de trocar sua pesada cruz com a dela?

Talvez outros que, como eu, se perguntavam como seria a beleza daquela senhora quando nova? Quantos homens se apaixonaram por aquele semblante tão sereno? Qual seria o número de homens que a desprezou? Será que valsara muito quando jovem? Ou simplesmente tivera um único amor não correspondido?

Aquela mulher me fez pensar na existência do ser humano na terra.

Me fez refletir o motivo de tanta ganància e corre-corre do nosso dia-a-dia. Será que valeria a pena tanta luta? Tantas noites de sono perdidas ao lado dos berços dos filhos tentando acalentá-los? Quanta economia aquela Senhora não fizera para dar o de melhor aos seus?

Avistei a poucos metros uma Playboy com a foto da Sheila do Tchan na capa, e tornei a olhar aquela Senhora naquele banco, sentada esperando recuperar as suas forças para continuar a sua trajetória pela vida afora.

Com certeza dentro daquele ser humano ainda ardia a chama da esperança de ter dias melhores nessa terra. Para ela o mundo não poderia ser tão cruel. Leva-me a crer que ela tinha sentado naquela praça para recompor suas forças espirituais.

Talvez, aquela mulher fosse a pessoa mais realizada da face da terra: tivesse marido, filhos, netos, um lar repleto de felicidade, e estivesse naquele local por um acaso esperando alguém, ou a espera de que alguma repartição pública se abrisse.

Estou começando a acreditar que apenas esse que vos escreve, nota a sua presença naquela praça.
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