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Artigos-->Crianças, perguntas e guerra -- 13/10/2001 - 09:32 (IZABEL ROSA CORREA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Há tanta pobreza e dor nos rostos feios dos homens. Há tanta angústia na imagem envolta e absurda das mulheres. Mas principalmente, há tanta inocência e tristeza no rosto sujo das crianças.

Quando é muito funda a sensação, quando é muito intenso o sentimento, torna-se difícil escrever sobre ele. Para sentimentos muito intensos ainda não inventaram palavras. São imagens que se fundem, que se alteram na cor da sensibilidade e as palavras ficam pequenas não refletem a angústia e o desalento.



Meu filho mais novo ficou chocado com as imagens das explosões. Ficou calado primeiro, depois seus olhos adquiriram um ar inconformado e questionador. Queria saber de tudo. Como aconteceu. Como as pessoas reagiram. Quantos morreram. Quando vai ser outro ataque. Mas, principalmente, queria saber o porquê? Como nos desenhos, nas histórias em quadrinhos, queria saber quem era do bem e quem era do mal. E eu, a heroína dele, sempre pronta a responder-lhe as questões respondi por monossílabos. Os acontecimentos são tantos, envolvem tanto ódio, tantos interesses mesquinhos e tantas visões deturpadas da realidade que não encontrei as respostas. O meu olhar passou a refletir as interrogativas dele. O medo do mundo apossou-se atingiu o meu mundinho. O futuro de meu filho, nesse mundo desconcertante sempre foi motivo de preocupação para mim. Porém, desejaria pode traçar, hoje, o futuro que antes da guerra eu temia por me parecer incerto e difícil. O futuro que se vislumbra por trás dos mísseis e suas estrelas verdes, dos homens de barba grande e olhar perdido e sem medo da morte é uma incógnita muito grande. Olho para meus dois meninos e gostaria de protegê-los de tudo, como toda mãe. Mas, gostaria principalmente de poder dizer-lhes: estes homens são bons, estão fazendo a coisa certa, estes outros são maus e devem ser combatidos. Mas tudo o que consigo transmitir-lhes é a minha estupefação ante o espetáculo da insensatez humana.



Aos poucos me acalmo. A guerra está tão longe. Os mortos são pessoas estranhas do Afeganistão ou são americanos cheios de pose e arrogância. Meu filho, aqui é o Brasil. Estamos fora deste jogo.



Puno-me por essa visão tão simplista e egocêntrica, porém, preciso dar algum conforto a minha alma ferida. Escondo-me atrás da manta da ignorância. Troco de canal quando é hora do noticiário. Pulo as reportagens de guerra ao folhear o jornal.



Só não consigo retirar de dentro de mim os olhos questionadores da criança que abrigo, a angústia da criança que, ao meu lado continua a perguntar porque e também não apago a mudez insana das mulheres transformadas em monstros e os tantos olhos tristes das crianças sujas vítimas da guerra.

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