TODO CUIDADO É POUCO
Manu estava com dois anos quando a irmãzinha nasceu. Para evitar curiosidade pura e simples e até mesmo que ele resolvesse brincar com a ‘bonequinha’ sem adultos por perto, achei melhor fechar a porta do quarto com chave, quando lá estava ela dormindo. Chave esta que ficava sempre no meu bolso.
No período da manhã Manu ia para a escolinha. À tarde, minha secretária e eu nos revezávamos com as crianças. Eu descia para brincar com ele no pátio, ela vigiava o bebê. Havia, porém, um momento em que eu ficava sozinha com os dois em casa, mais ou menos das cinco às sete da noite. Ele, de banho tomado e envergando seu pijaminha, distraía-se com brinquedos enquanto eu a amamentava e lhe trocava as fraldas.
Um dia, porém, aconteceu o inesperado, levei o maior susto. De repente, eis que o menino entra no quarto com um sorriso maroto, empunhando um varão! Ela, em cima do trocador, não podia ser largada. Eu, com as mãos ocupadas, não podia puxar aquilo... Se gritasse, certamente ele se assustaria e ... nem tive tempo de pensar no pior, o instinto falou mais alto. Abracei-me ao bebê e, de costas para meu filho, num vapt-vupt coloquei a menina no berço. Quando me virei, ele já não estava mais ali.
Passado o susto, eu queria saber onde é que ele tinha arranjado aquela vara. Ele ria e nada dizia. Só mais tarde é que percebi. Ela ficava enrolada na borda de uma tapeçaria pendurada na parede, bem na altura de suas mãozinhas...
Nem preciso dizer que daquele dia em diante a tapeçaria deixou de ser enfeite da nossa casa.
Beatriz Cruz
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