Ofício divino das palavras
( para Adélia Prado)
Serenai, serenai Antártida e mostrai despudorada a tua vagina líquida e desenhada de bolor feito navios que despencam...
Forcejai Netuno!
Ô grandes labaredas elétricas,
ô grande enguia,
ô pomadas,
ô frieiras de freiras frígidas,
divinos dedos açoitadores,
ô grande mão de mil tentáculos, dizei teu nome oblíquo.
Os hipopótamos verdes chafurdam com vacas azuis
E o mais são as marolas e o suor cheiroso de tua carne mineral.
Ô desdizer, fruta vaporosa...
Palavras-ninfas esvoaçando em delírio,
tecedura de vestes de água...
Verborragia e des-silêncios
impressos como mênstruo de virgens...
Pronunciemos “estalactite” e seremos salvos...
Soletremos “aleivosia” e gozaremos doçuras e signos...
Musiquemos os clitóris de Vênus...
Beijemos as tetas da grande vaca solar...
dia dos dizeres...
do bico entumecido da palavra lasciva...
Sarabatana, sarabatana,
abacaxi, pulgas, lama, romã e cu
barba, livro, licores azuis...
grilos verde limão de sintaxe histérica e sublime...
guarda-chuva,
planalto, pereba,
léxico e conchas...
versos e perversão....
“...eu não gosto de nada me apertando....” .;
“...eu não vou mostrar meu pau pra você...”.;
“...eu cuspo percevejos de cobre...”.;
“...chorei vermelhos olhos...ardentias...”.;
“...eu tinha saído para ir comprar açúcar...” .;
“...meus seiscentos filhos com a lua minguante, todos todos eu comi de uma bocada só...Cronos revitalizado”
grata, greta, grita, grota, gruta...
amém de anêmonas
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