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Artigos-->BALACOBACO -- 15/05/2005 - 14:24 (Rômulo Venades da Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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Jovino Machado – Orobó Edições 2002.



A poesia e na poesia de Jovino Machado há sempre a integração espaço-tempo-personagem. Um eu que tem o sentimento e o sofrimento do mundo. Percebem-se na sua poesia cenas que podem ser associadas a fatos reais, principalmente a alguns ocorridos no Brasil, que movem os sentimentos/acontecimentos no eu poético. Sua pele é uma evolução poética atada a fatos que permeiam e são responsáveis pelo enlace poético-espacial. Palavra poética, tempo e espaço são matérias-primas para o enredo da poesia Joviniana, que é ritmo e som, samba e balacobaco. A palavra solta pode não dizer nada, entretanto a palavra articulada desencadeia no leitor um sentimento novo que é poesia, que é criação. No poema 1994 de Trint’anos Proust’anos se percebe a importância da marcação temporal em sua poesia “... no dia em que Tereza teve trigêmeos / o Brasil ganhou a copa / e eu recebi sua última carta.”, o título do poema deixa impresso (no tempo) um acontecimento que já desperta no leitor a certeza (e ao mesmo tempo a curiosidade) de algo que se passou naquela data e, no seu desdobramento, percebe-se uma marca nacional, a conquista de uma copa do mundo. A poesia se universaliza em se reconhecer nacional, brasileira: “meu pai era gaudino ... meu avô zumbi... meu bisavô bardo ... eu sou sambista” (Livro Disco 1998).



A poética de Jovino Machado é marcada pela ambigüidade, os pares deus e diabo ora se distanciam: “deus é o diabo do diabo” ora se aproximam: “deus dorme com o diabo”, entretanto em momento algum deus desata com o diabo. A anfibologia e o duplo são necessários e são presenças constantes, pois “deus delira com o diabo”, o anjo que era luz e que se tornou escuridão. Harmoniosamente o bem e o mal desfilam “meu Cáucaso tem saci e Buda” e convivem em sua poesia.



Pode-se dizer, após releituras de Balacobaco, não haver o rompimento de deus com o diabo, ele tanto não desata COM o diabo que COM este deus dança, desfila, dorme e delira. Há uma aceitação dos contrários e uma peleja que se pugna entre os pares. O deus poético não desmancha COM o diabo, tão somente o desarranja, da mesma forma que quando “deus desmancha o diabo” ele o reinventa, pois “deus desenha o diabo”.



Os sentimentos contraditórios fazem parte do jogo poético, ao mesmo tempo em que “deus deseja o diabo” ele o desabona. Creio serem o auge dos contrários na narrativa poética esses dois momentos, pois o desejo suscita algo de bom, é um anseio, uma aspiração, a vontade de possuir algo. E, ao mesmo tempo, o desabonar é desacreditar, é depreciar, mas não chega à anulação ou quebra da relação, que já se tornou maniqueísta. É uma relação de poder e posse, de perene desafio, é desmanchar para reconstruir.



A mistura de coisas, de vultos, de personagens é uma tendência em sua poesia “... meu baú tem fotos de atrizes, bobagens, bilhetes, versos ... os fantasmas brincam suavizando a dor do meu mundo”, no entanto não perde o ritmo, não perde a poesia “Meu baú não tem tampa, nem fundo, mas sangra.” (Trint’anos Proust’anos 1995).



Se em sua poesia “o impossível é um mito” e o “imprevisto é Deus” que “não morre e não vive”, e sua “felicidade é triste” seus versos cantam suas tristes alegrias, seu princípio de harmonia.



Rômulo Venades da Rocha

romulovenades@terra.com.br
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