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Artigos-->SANTO SUBITO -- 23/05/2005 - 18:32 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O processo de canonização de João Paulo II vai começar imediatamente. Santo subito, santo subito, pediam os fiéis que, na Praça de S. Pedro, se tinham incorporado no imenso velório do falecido pontífice. Agora Bento XVI, o seu sucessor, ouve o pedido dos peregrinos e suspende a norma de se ter de esperar cinco anos para começar o processo de canonização de Karol Wojtyla.



É uma regra velhinha, a de se ter de esperar cinco anos, e destina-se a criar um certo e distanciamento entre a morte do “santo” e o processo de verificação da sua santidade. Cinco anos para que esfriem as emoções e se torne possível um processo que se quer exaustivo, isento, objectivo.



Não é a primeira vez que a norma é suspensa. Já em 1998, João Paulo II autorizava que o processo de santificação da Madre Teresa de Calcutá fosse iniciado pouco mais de um ano depois da sua morte. Agora é o defunto papa a beneficiar do precedente que ele próprio abriu. E, com as emoções ainda a escaldar, a tentação para abreviar o processo vai ser grande. Aliás, não foi esta a única mudança feita por João Paulo II às regras da canonização dos santos. Mais importante do que a da suspensão dos cinco anos de espera foi a de eliminar do processo o papel de advogado do diabo.



O papel de advogado do diabo era parte imprescindível do processo que foi criado há mais de mil anos pelo papa João XV. Como o nome sugere, o advogado do diabo tinha por obrigação questionar e demolir as provas de santidade apresentadas pelos promotores da santificação do candidato. Era a oposição sistemática do advogado do diabo que emprestava a todo o processo o carácter contencioso, e lhe dava o grande rigor que tinha.



Agora, o processo é mais de cariz biográfico, histórico, do que contencioso. Mesmo assim, se for seguido à risca, pode ainda proporcionar uma nova oportunidade de se reverem e de se divulgarem os factos mais salientes da vida de Karol Wojtyla. E quanto mais laborioso e exaustivo for, melhor. É que, agora como nunca, João Paulo II corre o risco de ser esquecido, ou de ser relegado para uma santa irrelevância que é pior do que o pior esquecimento. A santidade, não a santidade de facto de que lhe é óbvia, mas a santidade dos altares pode acabar por ser um impecilho às reais intenções e ao heróico esforço com que João Paulo II quis mudar o mundo.



Se canonizar João Paulo II vai resultar em relegá-lo para o universo seráfico da beatice e da festa litúrgica, então melhor seria que o não fizessem santo. Seria uma tragédia enorme se a sua luta pelos pobres, pelos oprimidos, pela paz, pela justiça se transformasse numa outra voz que clamou no deserto. Foi isso, desgraçadamente, que aconteceu a S. João Baptista que defendeu até à morte a dignidade e a pureza da família. Foi isso que aconteceu a Santo António Lisboa que passou a vida a lutar pelos pobres. A S. Francisco de Assis que queria trazer a paz onde quer que houvesse discórdia e guerra. O seu dia de festa anual e pronto. O resto dos dias do ano, caladinho no calendário dos santos que agora já nem se fazem imagens para pôr nos altares.



Deus queira que S. João Paulo II tenha melhor sorte. E que a sua voz continue a ser ouvida todos os dias do ano e por todo o mundo. Os pobres e os indefesos já têm santos de sobra. O que eles precisam é que se criem formas mais justas de acesso à riqueza que tem de ser melhor distribuída, e à dignidade que deve ser reconhecida a cada um. Era isso que Karol Wojtyla queria e é isso que o mundo precisa desesperadamente.
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