Houve quem gritasse nas manifestações estudantis de 16 de maio de 2005 que o dia seria registrado pela história rondoniense como sendo o marco de combate à corrupção, proclamado pelos estudantes de Rondônia. Isso por volta das 13 horas, quando palavras de ordem recheavam os discursos completamente ordeiros na praça Marechal Cândido Rondon, centro de Porto Velho.
O momento seguinte foi desfilar pela avenida Sete de Setembro, sob escaldante sol tropical, fazendo a volta pela rua Carlos Gomes, em direção à Assembléia Legislativa.
Ali as coisas começaram a ficar diferentes. Alguns começaram a acreditar que o prédio do legislativo fosse equivalente ao da torre da Bastilha, local onde os prisioneiros políticos eram enjaulados durante o regime monárquico. Talvez por isso houvessem tantos discursos discordantes, mas os que empolgavam a massa fossem justamente os mais eloqüentes, quentes, falando em destruição, apedrejamento, algo ligado ao caos.
Talvez uma vez mais alguém estivesse pensando que se tratava do povo francês, do reduto anti-Bonaparte que surgiu na Vendéia, uma região da França que se levantou contra o arbítrio do corso e tentou ficar independente. Mas esqueceram que o povo da Vendéia foi derrotado cruelmente pelas tropas bonapartistas e até hoje os historiadores franceses evitam falar muito sobre o episódio, uma mancha cruel na história franca.
O que poderia haver em comum num confronto entre o povo e a Vendéia seria a força repressiva, já que em lugar algum do país estudantes e baderneiros (geralmente em pequeno número), tem condições de enfrentar forças policiais.
As pedras que foram lançadas contra as portas da Assembléia Legislativa não estavam sendo lançadas contra a Bastilha, porém o Estado sempre aparelha as polícias militares como se fossem enfrentar o povo da Vendéia.
De francês mesmo não havia nada no movimento. Claro, é bom lembrar que Napoleão destacou tropas para a Vendéia e foi derrotado em Waterloo por falta de soldados suficientes para enfrentar ingleses e austríacos. Depois veio o exílio final em Santa Helena.
Bem, qualquer comparação com a Revolução Francesa seria no mínimo equivocada.
Mas alguns ainda tentam comparar a deputada Ellen Ruth com Maria Antonieta. Mais um equívoco sem dúvida. Ao povo os brioches.