MÃE DESNATURADA
Como ainda não tenho netos, passo longe das lojas de brinquedo e da seção de brinquedo das lojas. Mas não foi sempre assim. Quando os filhos eram pequenos não havia meio de escapar, eles me arrastavam e lá passávamos um bom tempo. Eles se divertiam fuçando tudo. A cada dois passos descobriam algo maravilhoso que adorariam comprar: carrinhos de controle remoto, super-homem articulado, roupinhas da Barbie... Acabavam levando uma ou outra coisinha. O maior problema era nas proximidades do Dia da Criança, eu não gostava nem de pensar. As lojas se entupiam de novidades e a televisão não parava de martelar a cabecinha deles. Comecei, então, a explicar-lhes que tudo ficava muito mais caro só por causa desse dia. Que tivessem paciência de esperar, depois compraríamos os brinquedos.
De início ficaram desapontados, não entenderam muito bem, mas eu sabia que no esperado Dia não ficariam a ver navios. Avós e tia não costumavam falhar, sempre apareciam com belos presentes.
Passada a festa, muitas vezes eu acabava me esquecendo do prometido, mas eles não. Cobravam em dobro. E se não viesse logo, apresentavam a fatura na época do Natal...
Até hoje eles se lembram, ontem mesmo disseram à tia, com vozinha fingindo tristeza:
- Mamãe nunca nos deu presente no Dia da Criança.
De minha parte, logo retruquei:
- Então amanhã vou dar um brinquedinho pra cada um!
Beatriz Cruz |
