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Artigos-->O ALCORÂO -- 30/05/2005 - 08:47 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No meu último artigo que saiu na coluna CARTAS AOS MEUS SOBRINHOS de um conceituado semanário, a palavra Alcorão apareceu com a forma esquisita de Alcorno. Uma jovem leitora das cartas aos meus sobrinhos “deu-me um toque” a alertar-me do erro. Conversámos um bocadinho sobre o artigo e outras pequenas gralhas que lá vêm, como as invasães francesas que deviam ser invasões francesas, e acabámos falando sobre a expressão ir para o maneta.



Diz-me esta simpática sobrinha que, na terra dela, algures na Beira, se diz ir para o major com o mesmo sentido que eu dei a ir para o maneta. Isto, claro, abre aos sobrinhos curiosos e amantes da língua pátria, daquém e dalém Atlântico, uma óptima oportunidade de darem uma olhadela a este fascinante campo das expressões populares. Muitas delas são autênticos tesouros históricos à espera de serem descobertos, como esta de que agora, com a achega da sobrinha, já temos duas pistas possíveis, que o homem era maneta e era major.



Nas bibliotecas existem muitos dicionários de expressões portuguesas, uns mais ricos que outros. O que eu uso com mais frequência é o de Guilherme Augusto Simões que traz cerca de 50,000 mil verbetes, todos engraçadíssimos. Uns que parecem tão longe do que realmente dizem, como ir meter no cu de alguém o que realmente se lhe quer meter nos ouvidos, como em e foi-lhe meter tudo no cu = e foi-lhe dizer tudo. Outros tão ao pé da letra do que realmente dizem que nem se vê bem a necessidade de os pôr no dicionário, como ao deus-dará. Mas mesmo estes mais óbvios têm também a sua história.



Ao deus-dará, por exemplo, documenta uma instituição social, hoje, graças a Deus, em vias de extinção, que era a mendicância. O mendigo pedia pelo amor de Deus, e quem não quisesse ou não pudesse dar, respondia-lhe “Deus dará”, e o coitado tinha de se contentar com aquela futura caridade divina. Daí andar ao deus-dará, andar na pedincha, andar por aí sem rumo, sem eira nem beira.



Mas voltemos ao Alcorão que é o tema principal deste artigo.



O Alcorão, como tão bem sabia a sobrinha que teve a bondade de me telefonar, é o livro sagrado dos muçulmanos. As Sagradas Escrituras, a Bíblia islâmica, por assim dizer, de cerca de mil e quinhentos milhões de pessoas que por esse mundo fora seguem a religião de Maomé. Só nos Estados Unidos vivem cerca de seis milhões de fiéis do Alcorão.



Dum ponto de vista puramente filológico, a grande diferença entre o Alcorão e a Bíblia é que a Bíblia não é propriamente um livro. É uma biblioteca que contém dezenas de livros, alguns dos quais proféticos. O Alcorão é apenas um livro profético, o livro do profeta Maomé, enquanto que na Bíblia, entre outros muitos livros, se incluem os livros de muitos profetas: Daniel, Isaías Jeremias, Jonas, etc.



Dum ponto de vista teológico, a grande diferença entre o Alcorão e a Bíblia centra-se, quase exclusivamente, na pessoa de Jesus Cristo. O Alcorão aceita o nascimento miraculoso de Jesus, aceita o seu papel de grande profeta, aceita até o papel escatológico de Jesus, só não aceita a filiação divina do Nazareno como nós, cristãos, aceitamos. De resto, tanto os seguidores do Alcorão como os da Bíblia se consideram “filhos de Abraão”. Os muçulmanos por descendência do filho primogénito de Abraão, Ismael, os cristãos por descendência do segundo filho, Isaac.



Mas passemos adiante, porque é exactamente por aqui que começa muita da controvérsia entre os seguidores da Bíblia e os do Alcorão. Deixemos isto para outro dia.



Voltando ao nosso assunto inicial, o da palavra Alcorão que por erro apareceu como Alcorno no artigo da semana passada, a minha erudita sobrinha acha que se deve dizer Corão e não Alcorão. Tirar o al, diz ela, que é uma velharia que já não tem jeito nenhum.



Pois sim, minha rica Sobrinha, mas olhe que se a gente começa por aí a tirar os al às palavras que os têm, podemos correr grandes riscos. Alface sem al é face, o que não deve ser grande coisa para a salada. Alfinete sem al dá finete, o que não deve ser muito útil para prender as fraldas dos bebés... Tirem al a alambique, a albarda, a alcachofra, a aldeia, a alfaiate, a alfinete, a algodão, só para mencionar algumas dos milhares de palavras portuguesas de origem árabe, e ficam com ambique, barda, cachofra, deia, faiate, finete, e godão. Não seria engraçado ver um faiate usando finetes para ajustar uma peça de godão?



Nisto de modernizar a língua é preciso ter cuidado porque pode dar burrice. Aliás, um corão é um coro grande, o que se não deve confundir com o grande livro dos muçulmanos.
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