Cômodo e meio, cinqüenta por mês, todo dia dez. Daí veio um molequinho, até bem parrudo para o que se poderia esperar daquela agrura. Casalzinho formado, ela achava que agora era continuar trabalhando em casa de família e pronto. Ele tinha seu serviço de ajudante, que não rendia lá essas coisas, mas dava pra ir levando. Naquela altura, quem é que poderia imaginar que o filho duma égua já estava de mala feitinha pra ir-se embora com uma outra? Heim? Quem? Pois foi o que o safado fez, sem nem dizer um “a” pra mulher, mal o caçula havia completado dois anos. E num belo dia ela se pegou com duas crianças pra cuidar, sozinha, sozinha no mundo. Foi um desespero no começo, mas depois foi levando até onde dava. Deixava criança com vizinho, saía cedinho, cada dia com um paradeiro distinto, rumo às casas das patroas. Vai daí que a mais velha, com quase quatro, quebrou uma perna e foi parar de favor na casa da vizinha. Na correria pra atender a menina, faltou no serviço e perdeu boa parte das casas que fazia, seu sustento. Atrasou aluguel. O dono do cômodo e meio, que também era meio do avesso com certas coisas do mundo, disse que se não pagar amanhã, te despejo. Ah, pra quê? Bateu o desespero na coitadinha. Filho mais novo no colo, com a perna boa, alguém aceita. Um dia inteiro de andança e nada. Resolveu dar o menino. E o pior é que o menino entendia isso, quando via sua mãe dizendo você fica com ele que eu não posso mais. E berrava, chorava, esperneava e dizia num quéio. Oi qui! Sei dizer que foi um sufoco danado ter que convencer a mulher a não dar o filho, resolvida que estava. Queria era os cem do aluguel atrasado ou uma passagem para o Piauí. Senão, daria o filho! Ninguém foi investigar a história, mas deram água pra moça, bolacha e doce pro menino, que soluçava sentido e sem parar, conselhos, que isso ninguém nega numa hora dessas, um monte de coisas. E até cem reais para o aluguel atrasado, sob a promessa que ela não daria o menino. Sabe-se lá que castigo é esse, o dessa mulher. |