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Poesias-->PROCURANDO DEUS, PROCURANDO A PAZ -- 15/05/2000 - 21:40 (Luís Sérgio Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






PROCURANDO DEUS, PROCURANDO A PAZ







Nas quilhas dos navios apontando o horizonte

E que rasgam o mar sem ferir.

Na minha pele dentro da tua pele.

Nas chuvas que dão de beber às árvores,

No ramo que acena na árvore o pouso aos pássaros.



Nas fotos dos tetravós, nas frestas das portas

Que deixam a luz transgredir para outros espaços.

Nas torres das catedrais, nas horas vazias de vários templos

Dos diversos nomes que Deus utiliza para nos chamar.



Pelas bocas que não fecham, pelas bocas que se fecham

Mas não calam, pelo silêncio que estronda,

Pelas tuas franjas, pelo vento varrendo teus cabelos.



Entre o cisco em teu olho, e a quase cegueira,

Entre as vozes dos sinos, entre os mortos sem razão

Entre a paixão e um rosário que se rompe e espalha

Contas como gotas ágeis que se perdem no chão.



Após o tam, tam, tam de Ludwig Van Beethoven,

Após Jesus Alegria dos Homens de J. Sebastian Bach,

Após a Ave Maria de Franz Schubert.



Dentro do mergulho do sol como imensa hóstia

Vermelha-amarela-laranja no horizonte do mar

No final de uma tarde de um dia de verão

Numa praia da Barra da Tijuca no ano de 1981.



Dentro dos teus olhos mergulhando, dentro

E no avesso dos passos, nas caixas de memórias,

Como sons guardados nos búzios, dentro do teu sono.

























Sim, nos milhares de papéis que voam pelo chão

Após alguns comícios, nas mesmas

Praças públicas em que dormem

Crianças sem pai nem mãe e que

Nem aprenderão um dia a lerem papel nenhum.



Sim, nos papéis em que representamos papéis,

E que não somos algo mais do que um carbono

A nos fazer iguais ao que somos.



Sim, nos clones que desejamos ser.

Sim, nos clones que não desejamos ser.



Na alma que não sabemos clonar.



Nos pátios das escolas em que a adolescência

Ainda não foi informada da arma de fogo

Que o destino pode lhes impor,

Sendo uma matéria que lhes falta aviso.



Nos avisos esquecidos.

Nos avisos desnecessários.



Nos porões dos subúrbios do mundo

Em que a vida vale poucos trocados,

Ou às vezes noves fora nada.



Ao dizer algo sem agilidade,

Indevido, quando se deveria dizer Paz.

Sem porém nem quando

Num absurdo inesperado emudecido.

Frente uma nuvem de gafalhotos místicos

Nos desertos sem água e pão.



Pronto para ser mágico

E usar espadas que não cortam nem furam.

Disposto a treinar cavalos de cavalarias

Para o espetáculo do circo

Rodando sempre num só local

Até que tontos, extenuados não possam

Ir a guerra.















Treinando arapucas para prender palavras.

Aprendendo jogos imperdíveis.

Infiltrado no imaginário da tela limpa

Antes do início dos filmes.

No calafrio de se sair das águas

Quando o mar não está para peixe.



Lá onde a claridade divide em sombras o que somos.

Lá onde jamais seremos.

Lá dentro do movimento do relógio

No sentido anti-horário

Quando as minhas mãos

Podem refazer parte do caminho do tempo.



Rente a alta velocidade com que a morte

Passou por mim e só fez um leve aceno.

Rente a porta que se abriu após um carro girar

No ar e ir descansar o casco sobre uma calçada.

Rente a sair ileso, sem dar uma só gota de sangue

A morte, e a morte nem se sentir atropelada.



Sobre as ondas de seis metros de altura

Que numa prancha impossível nunca descerei

Em nenhum Havaí.Sobre um lugar que nunca irei

Mas que se confunde com todo local

Onde poderei estar antes de um dia

Amanhecer encontrando paralelas no infinito.



Antes do destino nos jogar como garrafas ao mar.

Antes, e depois de abrir e fechar páginas da Bíblia.

Dentro das pirâmides do Egito.

Nas chamas das velas acesas em templos ocultos.

Dentro do fundo do mar sem medida

Por onde um submarino nuclear

Carrega uma ogiva que nunca será usada

Dentro da divisão dos átomos

Porque o homem não dividiu o pão.



















Segurando a alma que quer escapulir

Do céu da boca, deglutindo a alma sem engasgar.

Nas imagens dos castelos de areia que crianças

Fazem diariamente frente ao mar

De qualquer praia deste já espaço

Onde um dia vão ser cidadão do mundo.



Onde todo mar é igual, e cada uma

Dessas incontáveis crianças

Certamente saberiam equilibrar

Bandeiras brancas, sobre torres

De suas construções diárias.

Onde esta Terra sabe que todo o mar

É de todos. E onde esta nave – mãe - Terra

Dorme um lado de seu território

Para acordar o outro lado que se sabe despertando:

Corpo - Terra - de - todos.



Onde partem embarcações com içadas

Velas que não precisam ser apenas brancas,

Pois todas as cores também em uma só se unem.

Onde os pombos - correios transitam

Cartas de amor. Onde a paz não tem fronteira.



Onde a paz pode ser um cão abandonado.



Lá na chuva que é um bem comum

Se distribui suas águas

sem distinção de crenças, raças, poderes.



Ao lado de tua respiração sussurando como vento

Em meu corpo, no mesmo ar em que respiramos.



Na tua sombra junto a minha

Que unidas se prolongam, e que com os restos

Dos teus sonhos juntos aos meus

Nos permitem despertar.



Nas linhas que não leio nas palmas das tuas mãos

e imagino caminhos além das mãos.

















Rondando os teus seios

E no espaço entre-seios acolhido

Qual um soldado em trincheiras.



Alhures, nos projetos da guerra nas estrêlas.

Alhures, no coração do sol

Que como qualquer lâmpada

Um dia também se apagará.



Procurando a origem.

Na Torre de Babel onde de cima

Podes não me escutar batendo na porta.



Se te falo que linguagem decifrar?

Escutando com muita atenção o teu silêncio.

Pesando o silêncio miligrama por miligrama.



Ao desconfiar de algo estranho no ar.

Dizendo aos céus:

“Desça logo disco-voador.

Explique-se ao menos telepaticamente”.

Insistindo até que enfim

Os passageiros das naves espaciais

Acreditem em nós.



Embrulhando o som do silêncio.

Meditando sobre o vazio.

Repleto transbordando o meditado

A escorrer nos poros o suor de quem corre.



Correndo atrás do tempo,

Lado a lado com o tempo.

Até o tempo se cansar de mim.



Correndo atrás de uma bola

Com o olhar fixo

Na vibração de um gol da seleção.

Pasmo na estranheza das derrotas.

Sim, Deus pode ser brasileiro

Mas nem todo dia está jogando.











Nos enigmas reais ou imaginários

Sobre as guerras.



Onde deixamos nosso olhar ousar

Contra o invisível, se arriscar contra o gotejamento

Infindável, gota a gota e diário de sangue

Para aqueles que perderam parte de si

Em toda e qualquer luta injusta.

E toda guerra é sempre injusta.



A guerra não pode ser o bom combate.



No som da sirene das ambulâncias

No pisca-pisca dos vermelhos sinais de alarme.



Com a precisão dos que desapontam armas.

Com a atenção voando entre tenacidade e vigilância,

Com os olhos fechados, e a alma desabotoada.



Transluzindo os reflexos

Dos teus olhos guardados nas minhas retinas.



Dentro dos livros da História Universal

Nas letras das páginas perdidas.

Sim, por que não? Afinal quantos de mim

Estiveram me fazendo?

Quem me trouxe até aqui de carne e osso?

Onde está esse pessoal todo?

Certamente tenho centenas de antepassados

Mortos numa guerra qualquer.



Nos cântaros das águas dos teus olhos

Sorvendo a sede.



No minuto precedente aos terremotos.

Exatamente no segundo durante e na hora

Após o desabar, vasculhando escombros.



Dentro do tempo futuro em livros ainda não acessíveis

Mas que poderiam aceitar o arrancar de palavras mortais.

Ainda que nem escritas.

Dentro do espaço que a poeira faz entre livros

Nas estantes esquecidas e onde é possível escrever Paz.









Aprontando o que não deveria aprontar

Espetando demônios, ladrando para leões.



Esperando a chuva passar,

Esperando a tua boca fresca

Após a tempestade de um dia

De insuportável calor.

Esperando a procissão fluir e vendo a fé

Querer correr qual areia dentro de uma ampulheta.



Certo do desfazer da matéria

Certo da eternidade da alma.

Certo que de alguma forma mesmo que mínima

Influenciamos até no sol ao buscar as sombras.



Certo de que somos todos bem mais semelhantes

Do que diferentes, e que a igualdade

Faz de todo ser parceiro de todo e qualquer destino.

Certo de que o dedo que aperta um gatilho

Também pertence a mão capaz

De apertar outras mãos.



E se diferentes somos em ideologias.

São quase sempre formas diferentes de se pensar

Mas que não passam de água:

Um dia vapor, um dia líquida, um dia sólida.

Mas certamente um dia no pretérito passado

Havia algo em comum pois Deus

Riscou Fiat Lux nas águas

E um dia foi da água comum

Que nossas igualdades foram se dissipando.



Mas o que são diferentes ideologias

Senão pensamentos?

Então certamente diferentes

Em algo somos bem semelhantes

Pois a Paz é o silêncio e a voz

De todas as ideologias: se não hoje

Amanhã sim como toda água

É a mesma em diferentes formas.















Não vale a pena esta morte

Para Deus nenhum.E se Deus

É apenas um o que importa

A denominação diversa?



Desmontando muros predestinados,

Desativando bombas-relógios,

Sabendo que logo um século espera

Por parte de nossas existências



Frente aos que pregam sobre Deus.

E às vezes sem perceber, pregam ainda mais o Cristo

Na cruz indefinidamente.



Frente aos que se querem

Proprietários exclusivos de Cristo

Como se Deus fosse patenteável.



Frente a despedida de parentes e amigos mortos.

Frente aos mortos desconhecidos, aos não identificados

Que chegarão a Deus sem documento algum mas

Que certamente Deus há de reconhecê-los.



Contando com um, com dois, com mil.

Contando com o que não vejo e pressinto.

Contando que chegará o dia que não vai ser

Nem mais necessário contar.

A paz é incontável.



Ao me perceber eterno demais, e ao mesmo tempo

Frágil demais, inexistente diante

de uma coleção de mistérios.

Ao se saber a vida algo rápido como um relâmpago.

Ao sentir que nos perdemos qual gotas de água na areia.



Ao me ver repetido nos meus filhos.

Ao me perceber Filho do Universo.



Percorrendo o meu chão, e o mapa do mundo acariciando.

Percorrendo os teus olhos

Como quem vê um lago e mergulha fundo,

Por mim, por ti, por nós procurando a paz, procurando Deus.

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