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Poesias-->IMENSO POEMA DE UMA PEQUENA MORTE -- 16/04/2002 - 16:10 (ALEXANDRE FAGUNDES) |
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A terra seca aparou meu corpo.;
A brisa fraca carregou meu cheiro.;
Crianças medrosas correram chorando.
Minha vela apagou-se de súbito.
Não senti as dores do fim da vida,
apenas a angústia da barriga vazia.;
Amiga inexorável.; sinal de tudo igual.
Lavaram meu pouco de carne com pouco de água.
Um caixão pequeno me guardou com sobras.
Minha morte é pequena,
não interfere no mundo.;
Não importa ao Estado.;
Não alarma as gentes da cidade.
As lágrimas dos meus logo secarão.
Os medos dos meus logo passarão.
A vida me expele com toda razão.;
A morte me espera sem emoção.
Meu ocaso é singelo e pobre.
O padre que nunca veio aqui,
veio encomendar minha alma.
Tocou na mão seca sobre o meu peito
e fingiu dor.; quase chorou...
Mas olhou a cruz velha na parede escura
e fingiu que se conformou com a dor que simulou.;
E mentiu ter pesar na alma,
Mas não pesou a mão sobre a minha
e vai lavar a dele quando voltar.
Pastor não veio nenhum.
Se viesse, trazia as ovelhas
e me olhariam com olhos tristes.
Mas nenhuma choraria,
porque Deus não quer que chorem.
Deus quer que aceitem a dor...
Principalmente a dor dos outros.
E manda que abandonem os de outra fé
e fui abandonado, mesmo sem fé alguma.
Os espíritas também não apareceram.
Estão ocupados com a caridade.;
Dão comida para os vivos,
Não se preocupam com os mortos.
Não acreditam que alguém morra.;
Não sentem pena de quem padece.;
Acreditam na culpa das vítimas.;
Defendem o julgamento dos sofredores.;
Vão procurar minha alma amanhã.
Meus vizinhos vieram.
Trouxeram as crianças
e as crianças choraram sentidas.
Sentiam fome e nem podiam brincar.;
Sentiam medo da caixa que me guardava.;
Medo das velas que me esquentavam
e das caras tristes das gentes grandes,
que ficam pequenas diante da morte
Pois foram pequenas diante da vida.
Padeci novo.; antes do meio da vida.
Padeci como padecem os nossos meninos.;
Uns dizem que é fome, mas sei que é só pressa.
Criança daqui também nasce chorando,
mas é um choro de verdade.;
De saudade da água do ventre da mãe...
Um grito de medo do ventre do mundo.
A morte da gente dói menos que a sua...
Mas o chão da cova é mais seco e mais duro.
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