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Cartas-->CARTA A AMANDA -- 28/04/2002 - 23:41 (ODAIR PERROTTI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amanda:

Depois de fazer alguns trabalhos dirigí-me à janela de meu quarto para descansar um pouco.
Observei, nesta noite de domingo, o céu cinzento escuro, os prédios com suas luzes, o asfalto, os passeios irregulares de minha cidade. Já não havia mais o céu azul, o vento soprando, as estrelas reluzentes e meu velho companheiro, o mar. Esse mar que tantas vezes de mãos dadas ao sabor da lua e de ondas prateadas pudemos observar, namorar, contar longas histórias, sentados em uma duna ou, simplesmente em um toco de árvore, deitado ali a testemunhar nossos momentos de ternura. Acho que a saudades de Imbituba, me pegou.
Faço o possível para espantar o tédio desta noite sem perspectivas e de um amanhã cheio de surpresas (tenho certeza disso).
Amanda, posso dizer que sou feliz porque estou vivo e porque o futuro sempre nos prega peças. O mesmo não posso dizer do presente, este presente que a cada segundo se torna passado.
Quisera falar de flores, da lua, do amor, da alegria e só me vem à cabeça um poema de Jorge Luiz Borges, no qual ele fala de “deixar a sua mochila mais leve...”. Minha mochila já foi muito leve, Amanda e agora anda tão pesada. Mas, que importa? Impõe-se ser sereno, estar entre a tristeza e a alegria, deglutir esses sentimentos, inerentes à existência humana. Alegre ou triste é contingência. Posso estar triste e feliz, e posso estar alegre e infeliz. Não há saída: melhor estar sereno e dar os braços à tristeza e à alegria, caminhar com elas. Quantas vezes deixei-me arrebatar por sentimentos extremos: revolta, melancolia, ódio, depressão e raiva. Outras vezes ficava eufórico, deslumbrado, super excitado ou em êxtase. Mas, foi ai em Imbituba, morando sozinho, Amanda, que pude descobrir a importância de ser feliz mesmo sozinho. Que o amor por mim mesmo é o mais importante amor a um ser humano. Minhas madrugadas solitárias, ao som de alguma música, de preferência um samba, um jazz, blues ou mesmo um reggae, tinha destino certo rumo ao computador. Meus escritos, meus livros e minhas músicas me alimentavam. Não falo de meu arroz e feijão: eles me mantinham vivos.Descobri que só assim poderia estar aberto e disponível para amar a outros, que completariam minha felicidade. E, justamente agora, sinto que não estou completo.
Foi aí que eu, nascido numa cidade com nome de santo, São Paulo, pude ter consciência da importância do amor, que introjetei-o em mim. Antes, acreditava que amava, mas de nada sabia da relevância do amor. Hoje, ainda acredito estar engatinhando nesse mister.
Desculpe se não escrevo que “te amo”, que morro de saudades, que estou tão carente de uma voz e um corpo feminino a me envolver nos braços. Há certos amores que são inviáveis. Serão mesmo?
Por exemplo, veja nosso caso. Namoramos, ficamos pelo menos quatro meses juntos, mas eu tinha que voltar para minha terra natal. Eram problemas de saúde, financeiros, pessoais a resolver. Por outro lado você estava impedida também de vir comigo. Foi inviável esse amor? Quer dizer que um amor quando acaba é porque foi inviável? Não, inviáveis são somente os amores que temos por alguém ou algo e que não conseguimos nos aproximar. Se fosse o contrário uma morte acabaria com o amor de um casal que já tivesse convivido há sessenta anos. Claro que não. O amor permaneceu, mas o “objeto” de realização dele se foi. Se ele não se realiza, terminou? Terminou a sua realização mas não o amor. Meu amor, por você, por minha mãe, meu pai, entes queridos que já foram, só terminarão com minha morte. Até lá, poderão ser doces lembranças, saudades, mas o amor sobreviverá no meu íntimo.
Desculpe, mais uma vez. Não falarei dessa saudade de você ou melhor não falarei melancolicamente dessa saudade. Falarei de meu presente entediado, que em frações de segundo já se transforma em passado. Falarei que esse tédio só de leve me cutuca: tenho vários projetos e entre eles o mais difícil continua sendo o de “seguir a trilha do viver, amando”. Jamais serei mestre ou doutor, somente um impostor. Não um impostor, vigarista, que engana a outros, mas um impostor de mim mesmo, que engana a si próprio nas lições pouco aprendida e apreendidas dessa biblioteca Alexandrina chamada de amor.
Finalmente, para me despedir, deixo um abraço fraterno. Afinal, se “recordar é viver” eu preferiria estar com você. Como não posso, também não viverei apenas de nossas lembranças. Viverei com os olhos cheios de esperança e, então, essas já faladas lembranças serão minha cama macia a servir de esteio.

BEIJOS
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