Ontem fiz amor com um belo livro adolescente de poesia. Estendi um lençol azul celeste em minha cama, coloquei dois travesseiros dos mais finos, e deitei-me ao lado dele. Acendi à cabeceira um abajur, e o livro-meu-amor ficou iluminado de prazer. E fui abrindo-o com a própria doçura dos meus olhos excitados, deflorando-o com meus dedos ávidos de letras e palavras. Às vezes, mais do que lia os seus versos, em verdade eu colocava entre suas linhas coisas imaginadas certamente pelo autor mas que ele por vergonha não as escreveu. Fomos então nos amando em nossa língua, folha por folha, livres, eu e meu amor, esse livro de poesia escandalosamente adolescente.
Percorrendo as trilhas da loucura, nos perdemos numa floresta de pelos, palavras e sussurros.
E porque nos apaixonamos pelos versos um do outro, nossa relação de amor se eternizou: na página quarenta e sete, ele dormiu nos meus braços.
E eu sonhei.
Edson Marques. |