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Contos-->A Lenda -- 21/02/2002 - 20:37 (Carlos Odas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Eu acho que quero, e posso agora, lhe contar a história, ou melhor, a parte que eu conheço dela. Ele se chamava Loupi Garoupi, ou Lupí; nascera e crescera num lugar de gente feliz que eu, por não ser bom com as palavras, chamo de aldeia. Cresceu aprendendo que tudo o que fazia, fazia por si e por todos os outros, porque a liberdade e a felicidade não têm maneira de ser bens individuais. Seria mais honesto dizer que sabia dessas coisas, mas não que tenha aprendido, porque ninguém lhe disse nunca que era assim - era assim que ele sentia que deveria ser.

O fato é que num determinado dia surgiu-lhe uma alergia sobre a pele, uma leve irritação que, com o tempo, passou a incomodar-lhe. Uma das coisas que havia aprendido mesmo era que sempre havia uma cura para tudo o que incomodasse e que os mais velhos sempre sabiam a forma de curar todos os males. Então, por confiar na sabedoria e na justiça de sua tribo, procurou os anciões da aldeia para tratar de seu problema. Mas, olhando bem dentro dos seus olhos, o mais velho deles lhe disse: “Lupí não deve permanecer entre nós. Deve partir agora e levar tudo o que é seu. O que ficar será queimado em oferenda aos nossos deuses. Lupí não deve nunca mais voltar à aldeia.”

Por receio de que Lupí reagisse de forma hostil ao conselho do ancião, muitos guerreiros puseram-se em estado de alerta, porque Lupí era muito forte. Mas, antes que pudesse surpreender-se com aquela resposta do velho, o coração de Lupí já queria partir, o quanto antes, porque tinha mesmo era muito medo de que o mal que o afligia pudesse atingir qualquer outro membro da sua aldeia. Não suportaria causar nenhum dano, mesmo que involuntariamente, a qualquer de seus amigos ou amigas das cantigas de quando era pequenino ou das noites de lua grande em volta da fogueira. Lupí se foi, antes mesmo de chegada a noite daquele dia, internou-se na floresta, sabendo que ia ter a lição mais difícil de sua vida: a de aprender a viver sozinho. Não procuraria outra aldeia, porque nunca havia viajado para muito longe da sua e nem sabia se haviam outras aldeias iguais àquela; e também por pensar que o seu mal poderia tirar a paz e o sossego de outras gentes, se as houvesse por aí.

Então, Lupí andou até julgar que já estivesse, com relação à sua aldeia, a uma distância que fosse segura para os que ficaram. Os primeiros dias foram muito difíceis, os insetos o queriam comer vivo, as fogueiras se apagavam depressa e a ausência de qualquer outro ser com o qual pudesse trocar algumas palavras deixava seu coração mais pesado que ele próprio. Tentou viver em uma caverna, mas logo desistiu da idéia e construiu uma casinha de palha e madeira.

Aprendeu a gostar muito da Lua, que ele agora diz para si mesmo, já que não há ninguém por perto, que é a sua namorada: atenção, luz, aconchego... Dentro de sua alma ajeitou todas as coisas de modo a não sentir-se menor ou maior do que antes. Todos os seus sonhos cabiam ainda em seu coração. Só não sabia o que fazer com aquela tristezazinha melancólica quando, por algum motivo qualquer, e sempre os havia, lembrava-se de tudo na sua aldeia. Não sabia que isso se chamava saudade e foi a primeira sensação nova que Lupí sentiu em sua nova vida.

É mais ou menos assim, senhorita, a parte que eu sei dessa história. Ainda há muito o que descobrir, eu sei... eu me preocupo com Lupí, gosto dele... queria que ele fosse feliz, mesmo que assim, sozinho na floresta... por exercício de memória, para que jamais se esqueça de quem é, ele às vezes canta, sob a luz de sua namorada Lua, as velhas cantigas que aprendeu em sua aldeia. Planta e colhe, esperando um dia dividir a sua ceia com alguém que virá vê-lo, alguém talvez que não o tenha esquecido desde àquela tarde em que ele partiu...






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