Sozinho de vida a pino
E cá vou eu como dantes
Nesta vaga do destino
No fado dos navegantes.
Envolta em sonhos amantes
Minha nau levantou ferro
E as velas descerro
De mastros ao céu impantes
Entre palmas radiantes
Com festa fanfarra e hino
Deste cais tão pequenino
Aonde o mar feito sonho
Se abre ao mundo medonho
Sozinho de vida a pino
Sereias do desatino
Rondam minha nau à ré
E eu capitão firmo pé
Ao leme não perco o tino
Olho a estrela do divino
E as aberturas vacantes
Pra meditar uns instantes
Sobre os sonhos do Brasil
Em Portugal de Abril
E cá vou eu como dantes
Mais do que em versos farsantes
Procurarei traduzir
Da história seu sentir
Nestes tempos escaldantes
Que enregelam os barbantes
Do puro verbo latino
E até meu intestino
Já enjoa e adoece
Mas mesmo assim a fé cresce
Nesta vaga do destino...
Doravante em verso fino
Com mestria e elegância
Hei-de enfrentar a ganância
Que investe em desatino
Moldar-me ao vento ferino
Dos crueis deuses falantes
E às raivas trepidantes
Oporei minha guitarra
Com voz de denodo e garra
No fado dos navegantes...