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Artigos-->Uma punhalada na utopia -- 01/07/2005 - 19:15 (Athos R. Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Uma punhalada na utopia



O momento é de uma profunda e amarga reflexão e um incontestável aprendizado.

As denúncias envolvendo figuras da Direção Nacional do PT e do governo colocam em crise de identidade a esquerda de um modo geral e o partido em particular. E essa experiência indesejada deve servir como balizamento para os desafios futuros.

São tantos os descaminhos, tantos indícios envolvendo companheiros históricos que custamos acreditar que o PT esteja sendo maculado na sua maior virtude. A ética na política. O nosso maior patrimônio está ruindo como um castelo de cartas.



Nós crescemos e fomos formados no seio do PT com essa virtude. Governo do PT e petistas são sinônimos de honestidade. E essa identidade está sendo barbaramente atingida.

As denúncias de corrupção nos Correios e da compra de deputados com o “mensalão” nos deixam estupefatos e boquiabertos. Há incertezas com o futuro do governo Lula e do pensamento de esquerda em um governo popular.

Termos e expressões usadas para denunciar os governos neoliberais passados são usados agora contra o governo da mudança de Lula. São exemplos: abafa, esconde, toma-la-da-cá, liberação de verbas orçamentárias, tropa de choque, blindagem, compra de votos etc.



A militância, incrédula e silenciosa, assiste o desmoronamento de 25 anos de construção partidária. Como se, pela segunda vez, o muro de Berlim viesse abaixo para acabar em definitivo com algumas utopias que resistem ao tempo nos quatro cantos desse país.

É chegada a hora de revermos nossas alianças e nossas estratégias eleitorais e partidárias. E o PT fazer uma transformação de métodos e atitudes. Como disse o presidente Lula: devemos cortar a própria carne.

Depois disso tudo o PT continuará grande, mas não será mais o mesmo. O PT perdeu o encanto dos sagrados corações dos estudantes, a irreverência da aguerrida militância e o companheirismo nas relações interpessoais. Hoje, somos apenas burocráticos. Previsíveis e, em dados momentos, medíocres, arrogantes e mesquinhos.

Por que o PT não continuou o mesmo? Será que o poder tem a capacidade de transformar, ou igualar, os partidos, os homens e as mulheres?

Afinal! Por que e para que colocamos o Lula lá? Deveríamos ter respondido essa pergunta antes de expandirmos a base de sustentação para o PP e PTB. Uma heresia ideológica. Uma cardiopatia política.



Quando Olívio afirmou que nós estamos em más companhias, houve uma avalanche de críticas. O presidente do PT, ministros e um governador externaram opiniões contrárias. Não li uma nota sequer de apoio a Olívio de algum membro do governo ou do partido. É que a verdade dói. E autocrítica não é o nosso forte. E a tal governabilidade...

Na minha modesta opinião Olívio está correto. O governo e o PT precisam ser depurados, se quisermos falar em honra, honestidade e ética na próxima campanha eleitoral. Caso contrário, dedicaremos parte do tempo do horário eleitoral gratuito explicando as nossas “más companhias”. Faremos uma tergiversação difusa, indigesta e desacreditada.



Quando vejo na televisão o deputado Miro Teixeira sendo entrevistado e, abaixo, a legenda PT-RJ, fico de cabelos em pé. Imagina... companheiro Miro! Apenas, para citar um único exemplo, e, até acho que o “companheiro” não seja má companhia, mas é uma figura sem passado na esquerda. E com uma trajetória política por vários partidos. Todos nós sabemos que Miro Teixeira nunca foi, não é e nunca será um petista. Nem sei o que ele faz no PT.



Quando o governo alargou a base de sustentação para o PTB e o PP, não sabia quem eram Roberto Jefferson, Severino e Cia Ltda? Não sejamos ingênuos.

Se nós necessitávamos de um acordo com a direita, por que não dialogaram com os conservadores decentes?



Com a saída de Zé Dirceu da Casa Civil e, posteriormente, uma carta dos movimentos sociais apoiando o governo. O que Lula Faz? Perde uma grande oportunidade. Ao invés de olhar para a esquerda, nem que fosse disfarçado, o companheiro oferece quatro ministérios para o PMDB.



Enfim, haverá salvação para o pensamento de esquerda após o “endireitamento” do PT? Se não for pelo PT por onde andará a esquerda brasileira?

Haverá salvação para o governo do presidente Lula?

Eu sou pessimista. Acho que a crise de identidade da esquerda se prolongará por anos. E o governo de Lula não será diferente do que foi nesses últimos dois anos e meio. Como disse um colega “eu estou preparado para o pior”.

Caros amigos. Teremos que renascer das cinzas.



Em um debate na televisão um filósofo afirmou que a esperança foi assassinada. Uma afirmação forte para criticar um governo que se elegeu com o símbolo da esperança que venceu o medo.

A esperança a gente ressuscita, difícil será reavivar a utopia que levou uma punhalada nas costas. Isso, sim, será difícil consertar. Não há mais espaço para uma simples utopia que nos permita sonhar com os olhos abertos. Parafraseando Mario Benedetti: Do outro lado do rio ninguém nos espera com pêssego, muito menos com um país.



Um governo de esquerda. Um governo popular.

“Cuando parece mas cerca es Cuando se aleja mas”. Atahualpa Yupanqui.



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

01.07.2005





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