-Eu sou assim... Se estou com raiva falo na hora... O que tenho que falar eu falo e pronto. Esse negócio de namorar longe é difícil... A gente nunca sabe. Se a pessoa gosta da gente tudo bem, a gente tem que gostar mais da gente mesmo... Comigo é assim eu nunca volto atrás.
-Antigamente o povo era mais forte... Ninguém ficava doente assim igual hoje em dia... A gente comia feijão de corda e taioba... O povo suava mais e botava as porcarias para fora. A mulherada lavava a roupa no córrego o dia inteiro e socava arroz no pilão, ninguém tinha dor nas costas ou aids... É castigo de Deus por causa dessa pouca vergonha que anda por aí... Antigamente se alguém era viado alarmava a cidade... Hoje é advogado é padre é médico... Onde uma puta passava, mulher de família não podia passar nem perto... Hoje a filha sai de casa e passa a noite fora e o pai nem fica com raiva... Na minha época não tinha essas porcarias... O povo era mais religioso e mais temente a Deus.( pausa para respirar )
- Eu tinha uma amiga que...
-Não.
-Não?...eu ia faland...
- Olha esse povo pedindo esmola por aí... Ninguém quer saber de trabalhar, tudo vagabundo. Comigo é assim, eu matava esses maconheiros todos. Hoje, o sujeito vai preso e eles tratam dele lá na cadeia. Na minha época o povo tinha sangue nas veias.
- Eu gosto de gente assim que nem o senhor, o meu pai...
- Pois eu estou te falando que o povo tinha vergonha na cara... O seu pai era do meu tempo. Naquela época a gente não tinha vergonha de trabalhar... Hoje se um moleque tem que carregar uma caixa na rua fica com vergonha. Eu vivia cheio de bicho de pé. ( aponta com o dedo manchado o dedão do pé).
- O senhor sabe aquela piada do padre que conheceu uma mulher que tinha matado o marido? O padre ficou sabendo do caso quando a mulher foi confessar .No mesmo dia uma rameira lá da região foi ter com o padre e então o pa...
-Escuta ! ( aponta o dedo para a televisão).
- Viu ? o atlético vai blá , blá, blá, blá...
- Então o galo não vai mais blá, blá ,blá ... ( para disfarçar o ódio mortal ).
- Trim...trim...trim...trim..trim...
-Telefone... Atende o telefooone... telefoooone...
- O senhor gosta de fazer cigarro de palha para guardar...
- Eu tenho dez mil palhas guardadas que vai dar para um ano e ainda vou amassar mais um tanto até dezembro.
- Eu tinha um tio que gostava de cigarro de palha e morreu velhinho.
- Eu gosto também...
- Ah! ( surge uma esperança de falar ) , eu penso que eles devem colocar alguma coisa nesses cigarros de papel que a gente compra. Um dia eu estava...
-Não!
-Não? Eu ia faland...
- Eu desconfio que esse povo põe alguma coisa no cigarro e a gente fica viciado... Eu fumo cigarro de palha e se eu quiser eu paro... Na igreja eu não fumo e nem no ônibus. Se eu quiser eu paro de vez .