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Cronicas-->Você acredita em Amor Virtual ? -- 18/12/2001 - 17:06 (Wilson Gordon Parker) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Outro dia, numa dessas reuniões onde procuramos matar o tempo da forma menos chata possível, na qual estão sempre presentes os nossos amigos, conhecidos e inimigos, todos em sua maioria ilustres pseudo-intelectuais, surgiu o assunto "Amor Virtual".
Uma parte achava este tipo de emoção válida, a outra não.

Mas a coisa não é tão simples assim. Assunto complexo, um campo minado, cheio de areia movediça, preconceitos e radicalizações, sobre o qual escutamos as opiniões mais disparatadas possíveis. Ele permite que as pessoas falem um monte de besteiras sobre o mesmo, e outras discordem dizendo outro monte de absurdos.

Naquela reunião por exemplo, percebia-se que metade desconhecia o tema, uma parte da outra metade conhecia mais ou menos o assunto, e o restante sabia mais ou menos do que se tratava, embora não tivesse certeza de nada.

Todos falavam alguma coisa, nem que fosse a maior imbecilidade do século. O chopp descia bem geladinho pela garganta dos participantes, enquanto o "amor virtual´ esquentava a cabeça de todos.

Um dos presentes disse que havia instalado um prograqma do MIRC para fazer a comunicação nos canais de chat, mas nunca tivera coragem de teclar uma palavra com ninguém. Segundo ele, um bloqueio tomava conta da sua mente, e o paralisava totalmente.

Outro, disse que já tentara mergulhar naquele mundo virtual, mas que tinha muito medo, pois sabia que por trás de toda mulher com a qual estivesse teclando, na realidade poderia não ser uma mulher, mas sim, um gay se fazendo de mulher.

Enfim, todos tinham algo a dizer sobre o assunto. O tempo corria nas entrelinhas daquele simpósio matinal sobre a comunicação virtual. O sol torrava os neurónios das pessoas que estavam na praia. O suor escorria despudoradamente na pele de todos. Muitos se abanavam. Como era difícil fazer o tempo passar.

No meio de todo este caldeirão infernal, Adalgisa, uma das componentes da mesa onde se conversava sobre o tema "Amor Virtual", pediu a palavra e disse para todos os participantes, que iria contar uma historinha que havia se passado com ela, e que tinha sido a coisa mais alucinante da sua vida.

Todos pararam para ouví-la com interesse, porque ela não era uma mulher de muita conversa. Sempre fechada e seca, era do tipo que não estimulava muito as pessoas a jogarem conversa fora com ela. Feições sérias, também não dava muita margem de manobra para os sedutores que encontrava pelo caminho. Raramente soltava uma gargalhada. Seu sorriso era cronometrado e medido. Era uma pessoa onde o exagero não tinha espaço. Enfim, uma dessas mulheres que precisam ser primeiro entendidas, e depois amadas.

E Adalgisa contou a sua história:

"Meu marido tinha sido promovido na multinacional em que trabalhava, e fora transferido para a filial na Austrália, onde iríamos passar uns dois anos mais ou menos. Com meus três filhos, o maior tinha 11 anos, levamos uma vida cheia de saudades. O nosso casamento estava deteriorado há muito tempo, ou melhor, desde o início dele. Eu era uma mulher fria, sem alegria, olhos mortos, sem vida. Nada me alegrava. Uma vida insípida. Para matar a saudade do Brasil, e preencher o vazio da minha existência, eu navegava na Internet, e mandava e-mails para os amigos. Entrava em todas as listas que apareciam. Um belo dia, descobri o programa que nos permite acessar o "Internet Relay Chat". Comecei a teclar nos canais, conhecer pessoas. Era uma farra. Amigas começaram a me contar histórias de amor que aconteciam naquele mundo virtual. Eu ficava entre incrédula e estupefata. Como podia aquilo acontecer com pessoas que se diziam racionais. Amor sem toque, sem ver os olhos, só palavras, algumas fotografias, imagens rápidas de alguma fração de momento da vida do outro. Aquilo tudo era inacreditável. Minha vida conjugal continuava um inferno.

Mas, eis que, naquela manhã de segunda-feira, iria acontecer o grande momento da minha vida, depois que o meu marido já tinha ido para o trabalho, e o ónibus escolar havia recolhido os meus filhos, para levá-los à escola.

Eu teclava no canal que tinha o nome de "Paixão". Observava o que os outros diziam. Conversa de canal. Pareciam palavras sem sentido, mas para os frequentadores habituais, toda aquela charada tinha um significado. Súbito, vi um nickname que sempre me chamava a atenção, pois, além do bom gosto, era um homem muito inteligente. Eu gostava quando o "H_TempoDeAmor" estava por perto. Nunca tinha falado diretamente com ele, em "private", mas ele tinha a fama de ser um homem profundamente sedutor. Naquele dia, eu olhava o nick de uma forma diferente. Alguma coisa me impelia para ir ter uma conversa reservada com ele. Sem saber direito como foi, eu estava fazendo um "pvt"com aquele homem. Apenas disse "oi". O meu nick era "Grape". E ele me perguntou de cara: Öi...sua uva está madura?J ))", disse sorrindo. E eu, sem saber porque, lhe respondi: "Não! Está verde, e azeda!L (((", e coloquei o sinal de aborrecida. No Brasil ainda era noite de domingo. Nas três horas seguintes em que teclamos, aquele homem conseguiu me fazer contar coisas que nunca havia dito a ninguém. Um calor descomunal ia tomando conta da minha pele, de todo o meu corpo. Estava fascinada, completamente inebriada, tendo sensações que nunca havia experimentado na minha vida, fosse na chamada "real", ou na "virtual". Nunca havia me sentido tão bem e à vontade com um homem, como estava me sentindo com ele naquele momento. E eu queria mais. Das suas teclas passaram a sair os carinhos que eu sempre quis ter. Ele parecia ler os meus pensamentos, nas entrelinhas das minhas palavras.

E então eu disse: "queria tanto ouvir a tua voz, sentir você, mas não posso, porque o número vai sair na conta do telefone". E ele respondeu sem pestanejar: "Eu vou até aí meu amor! Quero muito ouvir você." E ligou !

Naquele dia, pela primeira vez na minha vida, eu tive um orgasmo de amor e prazer, como nunca tivera antes. Jamais imaginara que pudesse existir algo assim. Cheguei a desmaiar. Eu uivava de prazer. O telefone me caiu das mãos. Nos dias seguintes eu tive a sensação de que estava num outro mundo.

Sumi do IRC. Não voltei ao canal. Na queria mais ver aquele homem, que mudara totalmente a minha cabeça. Fiquei com medo de seguir em frente, pois sabia que se continuasse, iria acabar pegando o primeiro avião para o Brasil, largando toda a famíla para trás, para poder me jogar nos braços daquele amante que eu nunca havia tocado, mas que tinha sido o único homem que, realmente, conseguiu tocar o meu corpo da forma que eu queria.

Nunca mais o vi, nem voltei mais a fazer chat com ninguém. Foi o único prazer sexual que tive em toda a minha vida."

Wilson Gordon Parker
29/10/2001 (Todas as segundas-feiras)

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