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Textos_Religiosos-->Da estrada real da santa cruz -- 21/08/2011 - 00:56 (José Francisco Bessa da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Da estrada real da santa cruz


A muitos parece dura esta palavra: Renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue a Jesus Cristo (Mt 16,24). Muito mais duro, porém, será de ouvir aquela sentença final: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno (Mt 25,41). Pois os que agora ouvem e seguem, docilmente, a palavra da cruz não recearão então a sentença da eterna condenação. Este sinal da cruz estará no céu, quando o Senhor vier para julgar. Então todos os servos da cruz, que em vida se conformam com Cristo crucificado, com grande confiança chegar-se-ão a Cristo juiz.

Por que temo, pois, tomar a cruz, pela qual se caminha ao reino do céu? Na cruz está a salvação, na cruz a vida, na cruz o amparo contra os inimigos, na cruz a abundância da suavidade divina, na cruz a fortaleza do coração, na cruz o compêndio das virtudes, na cruz a perfeição da santidade. Não há salvação da alma nem esperança da vida, senão na cruz. Tomarei, pois, a minha cruz, seguirei a Jesus e entrarei na vida eterna. O Senhor foi adiante, com a cruz às costas, e nela morreu por meu amor, para que eu também leve a minha cruz e nela devo desejar morrer. Porquanto, se com ele morreremos, também com ele viveremos. E, se eu for seu companheiro na pena, também o serei na glória.

Verdadeiramente, da cruz tudo depende, e em morrer para si mesmo está tudo; não há outro caminho para a vida e para a verdadeira paz interior, senão o caminho da santa cruz e da contínua mortificação. Que eu vá para onde quiser, procurar o quanto quiser, e não acharei caminho mais sublime em cima nem mais seguro embaixo que o caminho da santa cruz. Devo dispor e ordenar tudo conforme meu desejo e parecer, e verei que sempre terei de sofrer alguma coisa, bom ou mau grado meu; o que quer dizer que sempre haverei de encontrar a cruz. Ou sentirei dores no corpo, ou tribulações no espírito.

Ora serei desamparado de Deus, ora perseguido do próximo, e o que é pior não raro serei molesto a mim mesmo. E não haverá remédio e nem conforto que me possa livrar ou aliviar; cumpre que eu sofra quanto tempo Deus quiser. Pois Deus quer ensinar-me a sofrer a tribulação sem alívio, para que de todo me submeta a ele e mais humilde me faça pela tribulação. Ninguém sente tão vivamente a paixão de Cristo como quem passou por semelhantes sofrimentos. A cruz, pois, está sempre preparada e em qualquer lugar me espera. Não lhe posso fugir, para onde quer que me voltes, pois em qualquer lugar a que eu for, me levarei comigo e sempre encontrarei a mim mesmo. Volto-me para cima ou para baixo, volto-me para fora ou para dentro, em toda parte acharei a cruz; e é necessário que sempre eu tenha paciência, se quero alcançar a paz da alma e merecer a coroa eterna.

Se eu levar a cruz de boa vontade, ela me há de levar e conduzir ao termo desejado, onde acaba o sofrimento, posto que não seja neste mundo. Se eu levar de má vontade, aumentarei o peso e fardo maior me impões; contudo é forçoso que eu a leves. Se eu rejeitar uma cruz, sem dúvida acharei outra, talvez mais pesada.

Não posso pensar em escapar àquilo de que nenhum mortal pôde eximir-se. Que santo houve no mundo sem tribulação? Nem Jesus Cristo, Senhor Nosso, esteve uma hora, em toda a sua vida, sem dor e sofrimento. Convinha, disse ele, que Cristo sofresse e ressurgisse dos mortos, e assim entrasse na sua glória (Lc 24,26). Como, pois, buscarei eu outro caminho que não seja o caminho real da santa cruz?

Toda a vida de Cristo foi cruz e martírio; e eu procuro só descanso e gozo? Ando errado, e muito errado, se outra coisa procurar,a não ser sofrimentos e tribulações; pois toda esta vida mortal está cheia de misérias e assinalada de cruzes. E quanto mais uma pessoa faz progressos na vida espiritual, tanto maiores cruzes encontra, muitas vezes, porque o amor lhe torna o exílio mais doloroso.
Mas, apesar de tantas aflições, o homem não está sem o alívio da consolação, porque sente o grande fruto que lhe advém à alma pelo sofrimento da cruz. Pois, quando de bom grado a toma às costas, todo o peso da tribulação se lhe converte em confiança na divina consolação. E quanto mais a carne é cruciada pela aflição, tanto mais se fortalece o espírito pela graça interior. E, às vezes, tanto se fortalece, pelo amor das penas e tribulações que, para conformar-se com a cruz de Cristo, não devo querer estar sem dores e sofrimentos, pois julga ser tanto mais aceito a Deus, quanto mais e maiores males sofre por seu amor. Não é isto virtude humana, mas graça de Cristo, que tanto pode e realiza na carne frágil, que o espírito com ardor abraça e ama o que a natureza aborrece e foge.

Não é conforme à inclinação humana levar a cruz, amar a cruz, cartigar o corpo e impor-lhe sujeição, fugir às honras, aceitar as injúrias, desprezar-se a si mesmo e desejar ser desprezado, suportar as aflições e desgraças e não almejar prosperidade alguma neste mundo. Se olhar somente a mim, reconhecerei que de nada disso sou capaz. Mas, se eu confiar em Deus, do céu me será concedida a fortaleza, e sujeitar-se-ão ao meu mando o mundo e a carne. Nem o infernal inimigo temerei, se eu andar escudado na fé e armado com a cruz de Cristo.

Portanto, como bom e fiel servo de Cristo, devo dispor-me a levar a cruz do meu Senhor, por meu amor crucificado. Devo estar preparado para sofrer muitos contratempos e incômodos nesta vida miserável, pois em toda parte, onde quer que estiver, ou me esconder, os encontrarei. Convém que assim seja e não há outro remédio contra a tribulação da dor e dos males senão sofrê-los com paciência. Beberei, generoso, o cálice do Senhor, se quero ser seu amigo e ter parte com ele. Entregarei a Deus as consolações, para ele dispor delas como lhe aprouver. Eu, porém, disporei-me a suportar as tribulações e considerarei-as como as consolações mais preciosas, porquanto não têm proporção as penas do tempo com a glória futura (Rom 8,18) que havemos de merecer, ainda que só eu as devesses sofrer todas.

Quando eu chegar a tal ponto que a tribulação me seja doce e amável por amor de Cristo, dar-me-ei por feliz, pois achei o paraíso na terra. Enquanto o padecer me é molesto e procurar fugir-lhe, andarei mal, e em toda parte me perseguirá o medo da tribulação.

Se me resolver ao que devo, isto é, a padecer e morrer, logo me sentirei melhor e acharei paz. Ainda que fosse arrebatado, como S.Paulo, ao terceiro céu, nem por isso estarei livre de sofrer alguma contrariedade. Eu, diz Jesus, mostrar-lhes-ei quanto terá de sofrer por meu nome (At 9,16). Não me resta, pois, senão sofrer se pretendo amar e servir a Jesus para sempre.

Oxalá eu fosse digno de sofrer alguma coisa pelo nome de Jesus! Que grande glória resultaria para mim, que alegria para os santos de Deus, e que edificação para o próximo! Pois todos recomendam a paciência, ainda que poucos queiram praticá-la. Com razão deverei padecer, de bom grado, este pouco por amor de Cristo, quando muitos sofrem pelo mundo coisas incomparavelmente maiores.

Devo ficar sabendo e ter por certo que minha vida deve ser uma morte contínua, e quanto mais cada um morre a si mesmo, tanto mais começa a viver para Deus. Só é capaz de compreender as coisas do céu quem por Cristo se resolve a sofrer toda adversidade. Nada neste mundo é mais agradável a Deus nem mais proveitoso a mim, que o sofrer, de bom grado, por Cristo. E se me dessem a escolha, antes deverias desejar sofrer adversidade, por amor de Cristo, do que ser recreado com muitas consolações porque assim serei mais conforme a Cristo, e mais semelhante a todos os santos. Porquanto não consiste nosso merecimento e progresso espiritual em ter muitas doçuras e consolações, mas em sofrer grandes angústias e tribulações.

Se houvera coisa melhor e mais proveitosa para a salvação dos homens do que o padecer, Cristo, de certo, o teria ensinado com palavras e exemplo. Pois claramente exorta seus discípulos e quantos o desejam seguir a que levem a cruz, dizendo: Quem quiser vir após mim renuncie a si mesmo, tome sua cruz, e siga-me (Lc 9,23). Seja, pois, de todas as lições e estudos este o resultado final: Cumpre-nos passar por muitas tribulações, para entrar no reino de Deus (At 14,21).
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